Monday, February 28, 2011
Reunião
Um dia, rumo ao sol. Um dia. E a chuva ficará para trás. Para trás da felicidade que é onde moram todos os anseios. Para cima do medo, para além dos desassossegos. Um dia, o sol sem nuvens, nem secas, que é para quando o verão chegar, ter-se sempre a certeza de que o que paira é a brisa sem vento, o raio de sol sem intento que, por isso mesmo, é em contágio-respeito. Um dia, a lua encontra o sol, sem intermédios: (algum)a Paz.
Thursday, February 24, 2011
A métrica do amor
Um centímetro de amor. Era tudo de que precisava. Na sequência, poderia o mundo acabar. A finalidade da vida estava num único gesto! Quanto mais, o verbo, em ruptura. Uma palavra deitada fora do silêncio. E a existência passava a valer (ainda mais), mas era como se passasse a valer de verdade: o apetite pelas frases dissonantes e mais toda a musicalidade que acomete o reinado do riso – ainda que silente. Um centímetro de amor, com o qual se pudesse fazer um metro de acabamento: a compreensão. Porque o amor e a compreensão são lados próximos, mas diferentes, de uma única alameda.
Sunday, February 20, 2011
uma fotografia à janela
uma foto
dois pontos
de que me esqueci de contar. uma foto, dois pontos e o mundo a se desfazer lá fora: estórias. depois, são só palavras = nós da consciência onde se tem de ancorar os sentimentos. para, mais adiante, desenlaçar as cordas do que ficou em musgos, ervas, essas fontes de alegria e tristeza, por já não serem mais o que foram: o doce do rebuçado que se ignora para o lamento tardio. A fotografia diz mais do que a imagem nela estampada. A fotografia faz gritar outros tantos álbuns de fotografias, guardados nos armários da lembrança. E há o pavor das estórias que nos dizem e sobre as quais não queremos ouvir falar.
Uma foto dois pontos várias geografias.
Mais valia tombar a foto pela janela, se não houvesse transeunte lá por baixo…e o arrependimento da perda inesperada cá em cima…
Uma foto: geografias em excesso.
dois pontos
de que me esqueci de contar. uma foto, dois pontos e o mundo a se desfazer lá fora: estórias. depois, são só palavras = nós da consciência onde se tem de ancorar os sentimentos. para, mais adiante, desenlaçar as cordas do que ficou em musgos, ervas, essas fontes de alegria e tristeza, por já não serem mais o que foram: o doce do rebuçado que se ignora para o lamento tardio. A fotografia diz mais do que a imagem nela estampada. A fotografia faz gritar outros tantos álbuns de fotografias, guardados nos armários da lembrança. E há o pavor das estórias que nos dizem e sobre as quais não queremos ouvir falar.
Uma foto dois pontos várias geografias.
Mais valia tombar a foto pela janela, se não houvesse transeunte lá por baixo…e o arrependimento da perda inesperada cá em cima…
Uma foto: geografias em excesso.
Wednesday, February 16, 2011
Goodbye ilha(s) do desterro...
Rasgar papel de presente sem medo do barulho. Matar formigas impertinentes sem dor de ouvido. Fechar as persianas com toda a força e estalar, sem zumbido. Abraçar sem pudor e em total desalinho aquele amigo que não se vê há tempos ou o amor que se (des)encontra todos os dias. Beijar com o ânimo das preces. O cumprimentar efusivo. O deixar-se estar ao sol após o almoço. Observar as aves, quando vão ao mar. Espreitar as folhas, quando caem no outono e fora dele. Resgatar a imagem do relento: o sobreaviso desfeito. Tomar meio litro d´água sem piedade das gotas a se espremerem corpo adentro. Falar alto feito garsa e rir como hienas. Estourar bolhinhas de plástico das embalagens protegidas. Achar os amigos engraçados. Sentir correr o sangue, quando se acelera o passo. Sentir o frio na cara, quando a brisa é gelada. Fazer estrelar a vida, como num único instante de alumbramento: a lua nos teus olhos e o minuto, a valer a eternidade. Saber calar na tempestade. Rasgar papel de encanto. Encantar a tristeza com um sorriso. Resgatar da morte o que se despede todos os dias. Trocar de rosto, de corpo e de vida todos os dias. Isso é ser criança. Viver a grande, em valentia, acreditar nos astros e partir da ilha chamada desterro (que não é Floripa, mas é a ilha onde moram os nossos medos!).
Monday, February 14, 2011
Ao dia dos namorados: amar feito joão-de-barro
Amar feito João-de-barro
O joão-de-barro vive em casulos temporários abertos apenas por uma fenda estratégica. Depois, vem o sol e com a luz invade qualquer precipício que fosse possível (e previsível). O joão-de-barro não é cantor como o pintassilgo, mas canta em dueto. E isso faz até a gaivota querer ser seu par, porque o joão-de-barro é uníssono, ainda que estridente!
Amar feito o joão-de-barro deve ser viver para a mesma região, acomodar-se num único local, mesmo que em peregrinação eterna, porque o espaço interior é único e inteiro e faz juz aquele verso do Fernando Pessoa… “sê todo em tudo o que faze”. Menos a natureza nas urbanidades e nas urbanizações sem piedade. Amar feito o joão-de-barro é aceitar que até o amor se move, entra e sai de cena, sem nos darmos conta, muitas vezes. E amar feito o joão-de-barro é ser inteligente: construir um lar até quando for possível, para na existência maior, a lembrança, perdurar até a morte. E nos interstícios: juntar as partes.
Será que ao criar arquitetos Deus se esqueceu de ensinar a fazer janelas como a estratégica fenda da casa do joão-de-barro e aí vieram os janelões coloniais e a imprevisibilidade das beiras dos solstícios em que nos precipitamos, sem levar nada na mochila ou nas malas? Ou terá sido o contrário: foi a fenda estratégica das casas do joão-de-barro que incentivaram a humanidade a fazer casas com fendas maiores?
Olhando um joão-de-barro de perto, só se conclui que o João-de-barro talvez quisesse ter sido um pintassilgo…mas tanto o pintassilgo, quanto a gaivota voam mais que o joão-de-barro, distanciam-se mais da terra, de seus ninhos e de suas capacidades afetivas. Porque, afinal, amar feito o joão-de-barro é refazer dos rastros do vivido um novo ninho!
O joão-de-barro vive em casulos temporários abertos apenas por uma fenda estratégica. Depois, vem o sol e com a luz invade qualquer precipício que fosse possível (e previsível). O joão-de-barro não é cantor como o pintassilgo, mas canta em dueto. E isso faz até a gaivota querer ser seu par, porque o joão-de-barro é uníssono, ainda que estridente!
Amar feito o joão-de-barro deve ser viver para a mesma região, acomodar-se num único local, mesmo que em peregrinação eterna, porque o espaço interior é único e inteiro e faz juz aquele verso do Fernando Pessoa… “sê todo em tudo o que faze”. Menos a natureza nas urbanidades e nas urbanizações sem piedade. Amar feito o joão-de-barro é aceitar que até o amor se move, entra e sai de cena, sem nos darmos conta, muitas vezes. E amar feito o joão-de-barro é ser inteligente: construir um lar até quando for possível, para na existência maior, a lembrança, perdurar até a morte. E nos interstícios: juntar as partes.
Será que ao criar arquitetos Deus se esqueceu de ensinar a fazer janelas como a estratégica fenda da casa do joão-de-barro e aí vieram os janelões coloniais e a imprevisibilidade das beiras dos solstícios em que nos precipitamos, sem levar nada na mochila ou nas malas? Ou terá sido o contrário: foi a fenda estratégica das casas do joão-de-barro que incentivaram a humanidade a fazer casas com fendas maiores?
Olhando um joão-de-barro de perto, só se conclui que o João-de-barro talvez quisesse ter sido um pintassilgo…mas tanto o pintassilgo, quanto a gaivota voam mais que o joão-de-barro, distanciam-se mais da terra, de seus ninhos e de suas capacidades afetivas. Porque, afinal, amar feito o joão-de-barro é refazer dos rastros do vivido um novo ninho!
Tuesday, February 08, 2011
fazer lembrar
fazer lembrar
um instante refletido no horizonte. a cor da mágoa que se desfez na borda da xícara. o ar que teima no já frio azul de janeiro (e que não é instante). uma folha de árvore que se estende porta adentro. um aceno refeito em cor de rosa. a tardinha que se desmancha em azul claro e a noite que chega em cinza. o olhar de um amigo desenhado numa onda. uma gota de chuva a transbordar janela adentro. um raio de luz a brotar pela fresta da porta. A raiva desfeita no risco de um avião ao longe. o amor refeito. em forma de lágrima. alegria. tudo isso num único instante: para lembrar depois da meia-noite.
um instante refletido no horizonte. a cor da mágoa que se desfez na borda da xícara. o ar que teima no já frio azul de janeiro (e que não é instante). uma folha de árvore que se estende porta adentro. um aceno refeito em cor de rosa. a tardinha que se desmancha em azul claro e a noite que chega em cinza. o olhar de um amigo desenhado numa onda. uma gota de chuva a transbordar janela adentro. um raio de luz a brotar pela fresta da porta. A raiva desfeita no risco de um avião ao longe. o amor refeito. em forma de lágrima. alegria. tudo isso num único instante: para lembrar depois da meia-noite.
Sunday, February 06, 2011
em sendo feliz...(sem receita)
o mar há muito. há muito no mar. no mar há muitos murmúrios. e há o silêncio que desponta todas as vezes que as ondas batem nas rochas em revoada. revoadas. rosas. cinzentas tardes frias. depois, é só o mar. muito do mar. muito no mar. que há. no mar há. há no mar murmúrios. e murmúrios de lamentos. alguns doces. outros, ventos. intentos de vôos, que só alcançam as gaivotas. sábias. todo o resto é mar. sem sol. mais sal. "o quanto do teu sal são lágrimas de Portugal?"
não sabemos. não se sabe. nunca se saberá. só que há muito mar. e há muito no mar. há muito murmúrio no mar. e há o mar. lamento. ar. deste, não queremos saber. só das ondas que quebram na areia, quando o sol ainda é forte ou quando o sol ameaça se esconder e vêm as gaivotas em revoadas. revoadas. re-inv-enção-voadas. vêm. vôo: mar.
não sabemos. não se sabe. nunca se saberá. só que há muito mar. e há muito no mar. há muito murmúrio no mar. e há o mar. lamento. ar. deste, não queremos saber. só das ondas que quebram na areia, quando o sol ainda é forte ou quando o sol ameaça se esconder e vêm as gaivotas em revoadas. revoadas. re-inv-enção-voadas. vêm. vôo: mar.
Saturday, February 05, 2011
Para ser feliz…(receita 1)
tudo o que há é o não haver. é o esquecer . a lembrança da nulidade. daquilo a partir do que somos e pelo que nos modificamos. tudo o que há é o nada. e no nada, quase tudo: um sorriso, um abraço, uma brisa no rosto, em tempo quente. um ambiente aconchegante em tempo frio. (e isso só aprendi no inverno português : é preciso sentir o calor que se esconde). o ambiente acolhedor fora de qualquer lembrança teimosa. fora de qualquer guerra interior. Porque tudo o que há é o não haver – sinceramente, o ter de haver não importa. (para quem gosta de cobertor. e vinho). tudo o que deve haver é o não haver. e depois.
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