Quando a alvura da noite
recai em teus ombros
é porque a noite é a manhã com que desenhas…
Monday, June 27, 2011
Sunday, June 19, 2011
Dica à Receita de Além cinza
Alcançar o fundo do mar, mesmo em onda alta. Conseguir apanhar os peixes com os olhos, ainda que em água baça. Escorregar os pés em terra molhada, em noite escura. Suportar sombra à distância, em tempo de meio-dia. Caminhar horas em injusta dor, sem calor ou comforto paladar. Depois, correr a distância da praia da Enseada, os pés descalços, pela estrada, em noite escura. Equilibrar, por cima da cabeça, um cesto com frutos pesados e mais todos os sonhos-suplícios. Resenhar um livro de teoria política, em tempo de crise. Criar crítica a um livro de poemas de Maurice Harmon ou à quinta sinfonia, em tempo de carnaval. Construir uma casa, em ladeira opaca e fria. Mergulhar em rio lodoso para encontrar urtiga preciosa. Rezar todas as preces Bom Jesus acima e de joelhos. Andar pra trás, ou, do avesso, feito carangueijo e, por isso (ou, depois disso) só falar direito e escrever correto (pós-reforma ortográfica). Comer chouriço sem cozer a pele ou a intempérie de quem pede falha, de quem soluça cansaço. Nada disso é tão difícil do que acrescentar margaridas aos grãos de areia de W.Blake e ver mundos coloridos, onde só se vê lamento (cinza, com perdão do pleonasmo)!
Tuesday, June 14, 2011
Lição 1 sobre o Horizonte
Lição1 sobre o Horizonte
Perde-se a beleza quando não se atenta à lua: o azul que não é blue, as velas dos barcos que distam da costa… a brilhar nas montanhas onde escondemos os medos…Perde-se a beleza quando se esvaziam as páginas de doçura, em verbo que não é intento, em vogal contraída e densa, em consoante pequena. E, assim, perde-se o entardecer, a hora em que o meu olhar encontra a gota que nunca é minguante na vaga da fímbria que se descola do oceano, quando tenho a certeza da tua presença: nuvem-mar (sem pensamento) em raios a cair no cais de todos os desesperos, como se fossem os raios de que, por vezes (e desafortunadamente) fugimos…fazendo esquecer o amor ( e a relembrar alguma dor). Como os infinitivos que existem, substituindo gerúndios, afastando apertos, soltando lamentos.
Depois, perde-se: a onda na areia e o horizonte que vira céu.
Então, estando verde e prometendo vertentes, alterna-se o esquecer da perda, a perda ela própria e a lembrança constante de que mais vale um sol em horizonte do que uma noite sem lua!!
Perde-se a beleza quando não se atenta à lua: o azul que não é blue, as velas dos barcos que distam da costa… a brilhar nas montanhas onde escondemos os medos…Perde-se a beleza quando se esvaziam as páginas de doçura, em verbo que não é intento, em vogal contraída e densa, em consoante pequena. E, assim, perde-se o entardecer, a hora em que o meu olhar encontra a gota que nunca é minguante na vaga da fímbria que se descola do oceano, quando tenho a certeza da tua presença: nuvem-mar (sem pensamento) em raios a cair no cais de todos os desesperos, como se fossem os raios de que, por vezes (e desafortunadamente) fugimos…fazendo esquecer o amor ( e a relembrar alguma dor). Como os infinitivos que existem, substituindo gerúndios, afastando apertos, soltando lamentos.
Depois, perde-se: a onda na areia e o horizonte que vira céu.
Então, estando verde e prometendo vertentes, alterna-se o esquecer da perda, a perda ela própria e a lembrança constante de que mais vale um sol em horizonte do que uma noite sem lua!!
Saturday, June 04, 2011
Cidade em Verão
Quando uma cidade é o verão, é porque nasceu em nós o amor. Renasceu a esperança e tudo o que realmente importa: lírios em sombra de meio-dia, margaridas a sacolejar levemente na brisa próxima ao mar e o mar, ele próprio, impróprio, reticente, denso, a avançar praia adentro, a cobrir os pés das pessoas em ondas, em desejo de fímbria, em escura-alvura, que se desenrola ao longo de uma tarde até já ser noite novamente e tempo para mais escuta das vagas lá adiante, como se fossem gaivotas em busca de marisco, sem isca alguma. Só o tom amarelo-escuro do fim da tarde somado ao desejo de vôo...
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