Friday, December 30, 2011

Porque é verão...

Ressuscitar o fio tênue das nuvens e marés, quando as nuvens voam ao oceano ou dele escapam, quando as marés fogem em vôo alto de nuvem...e, assim, redescobrir o feitiço de algum sorriso. Desacreditar a descrença. Potencializar a esperança, como último raio de sol em dia de vento e frio. Em dia de inverno. Caminhar até encontrar a luz. Tornar-se a luz. Deixar-se esvanecer, como o poente. Sangrar paixão nas veias, como quando corre um adolescente em tempo de esperança. Fazer deste tempo a vida inteira. E beirar o desapego, como quando o bicho-pau vira graveto a tantos de nós, ignorantes. Ressuscitar o último suspiro que ainda nos torna latentes. Saber esperar sem a pressa jovem da incerteza. Saber ponderar. Para, na sequência, deixar todas as sabedorias em suspenso e ir se banhar nu em pele de alma...

Friday, December 23, 2011

Felicitando O Tempo...

Recolher o medo da lembrança em caixote de papelão. Transformar papelão em magia. Imergir nas águas da memória, sem medo, apenas, em alegria. A que une pessoas. E as afasta das mentiras sustentadas por fatídicos períodos. Coser a linha do amor com a cor da paixão: os dedos refazendo o tempo em tecido claro, em tempo escuro. E guardar tudo o que for a única verdade: o que de nós desconhecemos. Extrair tudo o que não for tecido claro, nem linha de amor, nem cor de paixão. Fazer cair o que não for peça rara: iluminada. Sustentar o brilho do que nos mantém, a felicidade. E transformar a dor em preciosa claridade: (sor)riso em exercício, cristal sinfônico do tempo. Recolher as mãos, se não estiverem em sintonia com a calma, ou a amizade. E neste solilóquio quase-eloquente de pensamento, fazer nascer qualquer vontade: fraternidade. Para que o ano seja de novo a mais velha sabedoria: em esperança, em tempo-contentamento.

Saturday, December 17, 2011

Notícia do dia/Day´s news

O dia acordou querendo encontrar a noite. Beijou a tarde e saiu a passear...
The day woke up willing to meet the night. He kissed the afternoon & went for a stroll...

keepin´an eye on Spring...

Already almost summer
yet keepin´an eye on Spring
daring birds landing on tree tops
& all that we have always left
(behind)
your voice in spring
my circunference in dream
alterity mesmerized
before this fling
& that
other thing

Almost always already spring
in this eternity

Sunday, October 09, 2011

EM SHAKESPEARE, PÓS-SHAKESPEARE, DE SHAKESPEARE…

a opacidade que não é
o fio por entre as rodas dos carros
escorregando os degraus
fora do pensamento
(d)
a manhã (in)sólita
em que nos (des)ocupamos
a aridez da areia
em vento quase noturno
diurno (s)em prece
das dores dos barcos
em maré baixa
fundo de maré alta
o solo em terra sem chuva
a chuva depois da noite escura
o amor a querer mostrar asas
(s) em ternura
o sol quando sente que se despede
mais a falta do teu abraço
(menos)
perene
esta palavra-prece
que queria ser passe
mas é só opacidade
de inverno sub-tropical
depois, é tudo verão
- o lugar que nos aguarda
em sonho
suspensão
sentida
(solidão)
sem suspiro
e o fio por entre as rodas dos carros
e o asfalto, distante, distante…

Tuesday, September 20, 2011

O Perigo Audacioso do QUASE

Há palavras que têm destas coisas. O QUASE é uma delas. É quase como se fosse...uma intempérie, um passo torto, uma distância inexistente, destas que existem só em lembrança ou de vivência alheia... O QUASE atormenta quem gosta de esquemas. Quem vive de besteiras.
No mais, é só e sempre QUASE!
Vejamos...
Há o quase do quase: o que é já não sendo, o que foi e nunca foi, o que não é e sempre o é. Este é o quase: o híbrido do que se não é, do que se é e do que se pretendeu ser, do que se pensa ser e se desconhece... O quase é um fruto verde, ou uma fruta madura, é o momento antes do beijo e depois do abraço. O olhar antes da palavra e depois da consciência do erro. O quase é também o que se deixa de pensar e de se fazer. O que não nos permitirmos. O quase é o medo, mas é também o êxito do (não) descuido - ou, claro, a descuidada estupidez! O quase é só quase porque é precaução e porque é temor. E entre um e outro, vive no limbo, aparente, claro. Porque o quase é senhor. Veja só: quase sabemos das coisas. Depois, quase morremos. Quase percebemos algo...Quase nos deixamos levar (pela palavra quase)...e pelo dia, quando é quase noite ou pela noite, quando é quase manhã...e a audácia perigosa do QUASE deixa de ser crime e passa a ser aliança...e fica ainda mais perigoso...

Friday, August 12, 2011

Aqui, onde não

aqui, sou estrangeira de mim. e isso me basta.
aqui, onde não o ontem. onde não. não apenas. não. aqui, sempre sim. aqui, onde o estrangeirismo se perde, flutua e recorre à membrana superior de mim. aqui. isso, sim, é viver. isso, de ser. isso de ser deveria bastar. mas, há o lá e o acolá. depois, é-se sempre estrangeira. depois. vira-se a página, como se nunca houvesse (des)familiarização, (des)familiarismo. só a sede de não-ser e a fome de desfazer o não-ser. aqui, não me bastam os reticentes olhares estranhos com que frequentemente julgam os meus timbres e fonemas. aqui, sou, apenas. sem ser. sempre. aqui sou apenas sem ser sempre. porque sempre não se é. sempre apenas se é sem sê-lo - em já sendo. estrangeira de nau qualquer. estrangeira de todas as naus. tripulante zero. mar aguando o meu não. o meu basta. aqui. (onde, sim. onda & todas as naus = amor).

Monday, June 27, 2011

Explicação I

Quando a alvura da noite
recai em teus ombros
é porque a noite é a manhã com que desenhas…

Sunday, June 19, 2011

Dica à Receita de Além cinza

Alcançar o fundo do mar, mesmo em onda alta. Conseguir apanhar os peixes com os olhos, ainda que em água baça. Escorregar os pés em terra molhada, em noite escura. Suportar sombra à distância, em tempo de meio-dia. Caminhar horas em injusta dor, sem calor ou comforto paladar. Depois, correr a distância da praia da Enseada, os pés descalços, pela estrada, em noite escura. Equilibrar, por cima da cabeça, um cesto com frutos pesados e mais todos os sonhos-suplícios. Resenhar um livro de teoria política, em tempo de crise. Criar crítica a um livro de poemas de Maurice Harmon ou à quinta sinfonia, em tempo de carnaval. Construir uma casa, em ladeira opaca e fria. Mergulhar em rio lodoso para encontrar urtiga preciosa. Rezar todas as preces Bom Jesus acima e de joelhos. Andar pra trás, ou, do avesso, feito carangueijo e, por isso (ou, depois disso) só falar direito e escrever correto (pós-reforma ortográfica). Comer chouriço sem cozer a pele ou a intempérie de quem pede falha, de quem soluça cansaço. Nada disso é tão difícil do que acrescentar margaridas aos grãos de areia de W.Blake e ver mundos coloridos, onde só se vê lamento (cinza, com perdão do pleonasmo)!

Tuesday, June 14, 2011

Lição 1 sobre o Horizonte

Lição1 sobre o Horizonte

Perde-se a beleza quando não se atenta à lua: o azul que não é blue, as velas dos barcos que distam da costa… a brilhar nas montanhas onde escondemos os medos…Perde-se a beleza quando se esvaziam as páginas de doçura, em verbo que não é intento, em vogal contraída e densa, em consoante pequena. E, assim, perde-se o entardecer, a hora em que o meu olhar encontra a gota que nunca é minguante na vaga da fímbria que se descola do oceano, quando tenho a certeza da tua presença: nuvem-mar (sem pensamento) em raios a cair no cais de todos os desesperos, como se fossem os raios de que, por vezes (e desafortunadamente) fugimos…fazendo esquecer o amor ( e a relembrar alguma dor). Como os infinitivos que existem, substituindo gerúndios, afastando apertos, soltando lamentos.

Depois, perde-se: a onda na areia e o horizonte que vira céu.

Então, estando verde e prometendo vertentes, alterna-se o esquecer da perda, a perda ela própria e a lembrança constante de que mais vale um sol em horizonte do que uma noite sem lua!!

Saturday, June 04, 2011

Cidade em Verão

Quando uma cidade é o verão, é porque nasceu em nós o amor. Renasceu a esperança e tudo o que realmente importa: lírios em sombra de meio-dia, margaridas a sacolejar levemente na brisa próxima ao mar e o mar, ele próprio, impróprio, reticente, denso, a avançar praia adentro, a cobrir os pés das pessoas em ondas, em desejo de fímbria, em escura-alvura, que se desenrola ao longo de uma tarde até já ser noite novamente e tempo para mais escuta das vagas lá adiante, como se fossem gaivotas em busca de marisco, sem isca alguma. Só o tom amarelo-escuro do fim da tarde somado ao desejo de vôo...

Friday, May 27, 2011

Morada antiga

A casa ocupa a imensidão do céu, quando é verão. E na casa, há o verão para sempre. Parece. A tarde ocupa-se do tempo em que o vento é só. O vento. E das árvores saem escamas que cobrem as pessoas. Da tarde, somos envoltos em tulipas e lírios feito as penas dos pavões que colorimos, quando éramos crianças, nos cadernos que se perderam. A casa ocupa a imensidão do céu: a linguagem do sonho, em (des)silêncio, a conjugação dos tempos (passado e presente menos o futuro, que é para onde nunca iremos). A casa é só. Nuvem. Encanto. Véu e transparência. A casa é este silêncio em forma de pensamento: o fim da tarde, a noite mais outra, a se desdobrar na memória que desconhecíamos. A casa é.

Wednesday, May 25, 2011

Receita: mariscos ao sol de verão

Mariscos ao sol de verão:
Ingredientes:
- sol a bairrar, sem peneira
- verão picado em salsa de alegria
- torresmos de pimenta em gotas
- mariscos frescos ou semi-frescos
- folhas de primavera
- amor fora da lata
Modo de fazer:
Ler sem pensar escrever.

Receita sem pudor:

para fazer amor de marisco
é preciso uma dose de amor-petisco
desses que as árvores não mostram
exceto quando é primavera

!

Tempo de cozimento: o verão inteiro!
Porções: infinitas (desde que seja verão, ou já na primavera)
Servir frio, porque no calor tudo é quente.
Temperar à moda do Porto!
Esquecer fervuras, cozeduras ou urdiduras. O contágio da alegria é a garantia do sucesso do amor!

Monday, April 18, 2011

Lua: a tarde das noites todas

Quando a noite deixou a infância, virei-me ao tempo que a noite cala. E era tudo isso: a varanda virando-se à lua, feito maré molhando praia, revelando o vento, cortando o tempo em paisagem, passagem do pensamento...Foi o tempo da imagem na consciência adolescente mais o furor da linguagem a se despir em verso... (e a brincar de dis-soar o tempo, fatiá-lo em espaço-palavra, recortar a noção da razão ao mínimo detalhe do verbo na página que não é.
Depois, mais adiante, veio o fim da noite, mas nunca que ela se calou, porque ficou aqui e ali a imagem da lua e a varanda a ela se virando, feito maré molhando praia em dia escuro de sol, feito teima de garoto em dia de chuva no despiste que o sentido do coração tantas vezes toma...Quando a noite deixou a infância, invadiu-me a inconstância adolescente da linguagem e ficou esta varanda - o jeito todo com que a varanda só conseguia olhar a lua e a lua, insana, silente...a despertar inocente ao mundo que nunca mais a quis inerte...

Metamorfoses de um ouriço!

o ouriço gritou a sua parte ao mundo. rebelou-se feito um caracol. foi formiga. voltou a ser ouriço, como num passe de mágica. mas era a imagem da formiga que o perseguia, feito um caracol querendo ser minhoca, querendo ser só sol. e só se ouvia: auréola ávida do poente no horizonte aéólico do tempo...("ai, ai, ouriço!").

Saturday, March 19, 2011

A Sós

O eu com quem mais quero estar é o meu: o eu de mim, sem sussurros complexos. Cálices calados. Frutos indigestos. Quero o sabor simples, nada complexo da vontade: a palavra menos a vida lá fora. Só se for em contemplamento: o silêncio aqui dentro e a paisagem a fazer dançar as árvores, em que o tempo dispara menos – as folhas, sem eu(s).
O eu que mais quero é o eu de mim – o espaço em branco, acontecimento pausa.
O subreptíceo hiato entre o mundo e eu.

Monday, February 28, 2011

Reunião

Um dia, rumo ao sol. Um dia. E a chuva ficará para trás. Para trás da felicidade que é onde moram todos os anseios. Para cima do medo, para além dos desassossegos. Um dia, o sol sem nuvens, nem secas, que é para quando o verão chegar, ter-se sempre a certeza de que o que paira é a brisa sem vento, o raio de sol sem intento que, por isso mesmo, é em contágio-respeito. Um dia, a lua encontra o sol, sem intermédios: (algum)a Paz.

Thursday, February 24, 2011

A métrica do amor

Um centímetro de amor. Era tudo de que precisava. Na sequência, poderia o mundo acabar. A finalidade da vida estava num único gesto! Quanto mais, o verbo, em ruptura. Uma palavra deitada fora do silêncio. E a existência passava a valer (ainda mais), mas era como se passasse a valer de verdade: o apetite pelas frases dissonantes e mais toda a musicalidade que acomete o reinado do riso – ainda que silente. Um centímetro de amor, com o qual se pudesse fazer um metro de acabamento: a compreensão. Porque o amor e a compreensão são lados próximos, mas diferentes, de uma única alameda.

Sunday, February 20, 2011

uma fotografia à janela

uma foto
dois pontos
de que me esqueci de contar. uma foto, dois pontos e o mundo a se desfazer lá fora: estórias. depois, são só palavras = nós da consciência onde se tem de ancorar os sentimentos. para, mais adiante, desenlaçar as cordas do que ficou em musgos, ervas, essas fontes de alegria e tristeza, por já não serem mais o que foram: o doce do rebuçado que se ignora para o lamento tardio. A fotografia diz mais do que a imagem nela estampada. A fotografia faz gritar outros tantos álbuns de fotografias, guardados nos armários da lembrança. E há o pavor das estórias que nos dizem e sobre as quais não queremos ouvir falar.
Uma foto dois pontos várias geografias.
Mais valia tombar a foto pela janela, se não houvesse transeunte lá por baixo…e o arrependimento da perda inesperada cá em cima…
Uma foto: geografias em excesso.