Monday, February 14, 2011

Ao dia dos namorados: amar feito joão-de-barro

Amar feito João-de-barro
O joão-de-barro vive em casulos temporários abertos apenas por uma fenda estratégica. Depois, vem o sol e com a luz invade qualquer precipício que fosse possível (e previsível). O joão-de-barro não é cantor como o pintassilgo, mas canta em dueto. E isso faz até a gaivota querer ser seu par, porque o joão-de-barro é uníssono, ainda que estridente!
Amar feito o joão-de-barro deve ser viver para a mesma região, acomodar-se num único local, mesmo que em peregrinação eterna, porque o espaço interior é único e inteiro e faz juz aquele verso do Fernando Pessoa… “sê todo em tudo o que faze”. Menos a natureza nas urbanidades e nas urbanizações sem piedade. Amar feito o joão-de-barro é aceitar que até o amor se move, entra e sai de cena, sem nos darmos conta, muitas vezes. E amar feito o joão-de-barro é ser inteligente: construir um lar até quando for possível, para na existência maior, a lembrança, perdurar até a morte. E nos interstícios: juntar as partes.
Será que ao criar arquitetos Deus se esqueceu de ensinar a fazer janelas como a estratégica fenda da casa do joão-de-barro e aí vieram os janelões coloniais e a imprevisibilidade das beiras dos solstícios em que nos precipitamos, sem levar nada na mochila ou nas malas? Ou terá sido o contrário: foi a fenda estratégica das casas do joão-de-barro que incentivaram a humanidade a fazer casas com fendas maiores?
Olhando um joão-de-barro de perto, só se conclui que o João-de-barro talvez quisesse ter sido um pintassilgo…mas tanto o pintassilgo, quanto a gaivota voam mais que o joão-de-barro, distanciam-se mais da terra, de seus ninhos e de suas capacidades afetivas. Porque, afinal, amar feito o joão-de-barro é refazer dos rastros do vivido um novo ninho!

1 comment:

Unknown said...

LINDOOOOO!

Amei!!!

Você é D+++++++


bjs e sds

Lilian Jäkel