Hoje o verão tem rosto de primavera, braços de
inverno e tempo de outono, como os rostos que se foram, os amigos que partiram
e os anos que cabem na memória. Ainda assim, hoje não é inverno. Hoje é apenas
um dia de sombra da chuva que o verão permite, para que haja colheita, para que
haja semeadura...
Wednesday, December 17, 2014
Thursday, September 04, 2014
Depois das cerejas
Dos
desejos e das cerejas o hálito de quem procura caminhos de estradas em
palmeiras, sem cerejas. O hábito de desejar o que não. O que só sim. O que é sempre tinta em tela da história. O hálito azedo do não-descanso: o bolo sem cereja, a cereja distante
e o desejo, sempre.
Friday, July 25, 2014
Para quando falharem os verões...
Para quando todas as auroras se desfizerem em primaveras-tortas, para quando todos os outonos jamais tiverem qualquer possibilidade de verão, verse o pranto em riso, acenda todas as velas na chuva, caminhe descalça/o em terreno baldio e cheio de ervas, abrace os nós com que o Universo te presenteia, corra nu(a) em pleno frio do sul no mês de julho, descasque todas as batatas ao som da fúria de um hard rock, elabore o tempo do silêncio que perdeste. Sentirás que nada te falta, a não ser o teu próprio eu de quem te distanciaste. Olha a tua volta, (des)regula os passos, transpira o que já deixaste de ser há muito, isso do aqui e do ontem. Do agora e adiante. Hoje, sem remorsos...
Tuesday, July 22, 2014
Sobre o amor
Contra o amor, não há
medicação. Nâo há contra-indicação, também. O amor não se previne, acontece.
Pega-nos de surpresa e arrefece, com a mesma velocidade com que chega. Depois,
é o tormento das almas a sofrer a ausência e a dor da separação. O amor não se
previne. Acontece. Depois, é lamento distante, é injúria do cadafalso, da perda
sem dano, das emoções dispersas, da libido do gozo traído do não-ontem no hoje.
Contra o amor, há todos os dias. Há o hoje e o amanhã, à espera do amor de
ontem e do ontem sem amor no hoje com muito amor. Há a medicação para todos os
males, menos isso, do amor que se torna veneno, quando não mais vivido ou só
vivido na memória emancipada da pele em saudade...
Tuesday, June 03, 2014
Das distâncias nossas & da lua
a lua está próxima hoje. e
teus dedos não a alcançam. só este resquício de pensamento. vontade. a lua está
grande feito unha-crescente, quando os dedos teimam em teclar. e está tão
próxima. as tuas palavras, que mais distantes. e de repente, desejo subir a lua
e lá permanecer, girando, contigo, de ponta a ponta da unha brilhosa. mas, a
lua está distante – e tão próxima. como quando contávamos as estrelas nas
noites que nos apeteciam os saberes do universo, quando o atravessávamos,
querendo ser mais humanos e menos nós-mesmos. a lua, é esta que te trago e tu
devoras, feito pipoca de palhaço, feito fantoche em domingo calamitoso de cão
raivoso. a lua está distante e tão próxima. porque estamos longe e tão
próximos...
Sunday, June 01, 2014
Criança-sempre
sonho
de gente grande tem que sempre vir com S maiúsculo, feito casa de concreto,
menos os sonhos de bonecas e gatos pulando entre vãos, portas e janelas. sonho de gente grande tem a pequenez do tempo
como os limites dos doces nas tardes de brincadeiras quase infinitas menos o
aroma do que acelera o coração: abraço de pai, beijo de mãe, cosquinha que os
irmãos nos fazem arbitraria, e fugazmente. sonho de gente grande é quando
criança reaparece assim quando o adulto dela se esquece, mas é sempre muito
rápido o passo entre a casa de brinquedos, e o mundo de concreto. mal sobra
sorriso de lágrima ou de chuva, quando é verão bem forte e o calor transpira
céu abaixo....
Sunday, May 11, 2014
Bênção, Mãe!
Das entranhas de ti, o
que sou. Da tua força, garra e dor, eu. Do que deixaste para trás, o futuro. Do
que sonhaste, pesadelos. Das tus lágrimas solidificadas, choro esquecido,
transformado em riso. Das noites mal dormidas, dias ensolarados. Da vida que se
esvai, e mais outro tanto. Das tuas alegrias, alguma mais felicidade para mais
tristeza, porque este é o ciclo. Outro ciclo. Aquele que pensa controlar
todos... Mas, o universo é tão pequeno e cabe nas tuas entranhas e no que não
sou, sendo. O universo é imenso e escapa dos teus anseios, meu e teu percurso.
Das entranhas de ti, uma voz a mais no mundo sem silêncios para roubar o teu
silêncio, para te honrar à eternidade, porque tu és metonímia do que nos
escapa, mãe, o Universo...
Tuesday, May 06, 2014
Das minhas sombras – tuas linhas, curvas...
Uma parte de mim é o que de mim
se distancia e de ti se aproxima; outra parte é este teu eu que desconheço e
que julgo amar; depois, entre um e outro eu, há o eu-ninguém, o eu-de-sempre, o
eu-capaz-de-qualquer-atitude, o
eu-sem-qualquer-lamento-e-todas-as-lamúrias; há o eu-teu-meu e o eu que
só carrego em pensamento e desabotôo em noite insone, em manhã fria, em
caldeirão com pimenta. Uma parte de mim é o que as palavras registram; outra, a
de todos os meus silêncios, tuas palavras. Depois, há o espelho. E as
refrações. Reflexos. Reentrâncias...- menos a linguagem.
Friday, March 21, 2014
(todo)
VINTE E UM DE MARÇO
Hoje é o dia da Poesia. dia da
(des)mesmice. da não-barbárie. da alegria. que contagia. do tempo do silêncio
na alma do infinito. hoje é o dia da Poesia (porque nos outros não há Poesia?).
há meia-dívida com a palavra que soletra o desaforo e impera o choro ou a
grande selvageria. e sempre grita a menor intempérie. hoje deveria ser sempre. hoje.
palavra de carne e osso. palavra de sangue a honrar o que não se celebra como
verbo derradeiro. hoje para nunca mais. hoje
para sempre. da nuvem ao horizonte. Hoje não é dia da minha poesia. deveria. ser
dia de toda a poesia. sem maiúsculas ou minúsculas. só sendo. para que se
fizesse o verbo cerne de toda a intenção. verbo (in)certo e certeiro: rimas mal
passadas, ritmo insólito do vento sem imagem, pausas acentuadas – para enlouquecer
donas de casa e madrinhas de escola de samba, senhores crentes... Não importa.
Porque isso importa: A POESIA É SEMPRE, o tanto que não vemos do tempo que se
esvai: o teu eu que retiro do meu, o meu eu que reverbera o teu, a palavra
maldita, sempre a ser dita. ou, só o
silêncio teimoso por entre linhas, versos (?) escondidos em estrofes
condensadas. Hoje é o dia de toda a Poesia, para que não nos esqueçamos do que se
tornou diminutivo no mundo imperial dos devaneios...ritmos reverberando batuques (silenciosos ou menos) construindo lenta-mente o que se
esvai...
Saturday, March 15, 2014
Wednesday, March 12, 2014
Receita Terapêutica & (des)Temperada:
Que o mundo gire. Que a roda se
deforme. Que a transparência seja a ausência. Que a presença se desafie em
ausências. Que o mundo pare. E volte a girar. Que a alegria contagie, menos o
plano do amor-encerrado-em-si-mesmado. Que a roda volte a ser firme &
circular. Que o mundo declame. Nada desta poesia. Isso não é poesia. Isso é
reclame em blog de fantasia. Menos.
Saturday, March 08, 2014
Femin-inando
De todas as partilhas,
o feminino. No plural. E no feminino, que também é gênero. Ser mulher, menos.
Ser menos = mulher. Ser no feminino, antecedendo todas as formas plurais. Ser
dividida. Ser excluída. Ser sem perdão, nem piedade. Ser-estando. Ser-não-sendo,
para desmentir quem é e tombar no masculino. Tomar do masculino. Em-bebedar-se.
Obrigação. Obrigatório. Destemido. Ser mulher = ser gorda, mesmo que anoréxica.
Ser mulher é ter cabelos e, para alguns milhares de muçulmanas, não tê-los.
Prender as vistas de suspiros expostos. Romper choros abrasivos; alguns,
abusivos, convulsivos compulsiva-mente de carências: econômica, social,
afetiva. Ser no feminino: nascer para ser menos. Ser só. Sempre. E no
plural-monolítico de si. De todas as partilhas, este lado choramingo: dia que
tem que ser dia em que não se é ou só se é para não sê-lo. E continuar hipocrisias.
E fantasiar mentirosas idolatrias e igualdades legítimas. De todas as
partilhas, o feminino, menos a humanidade, sempre, masculina.
Saturday, February 08, 2014
Dia Nascente
quando o horizonte brinca de tempo-será com o sol a melodiar, é tempo de voar e fazer dos sonhos de Ícaro os olhos desembaçados de mais uma nova aurora...tempo de não-espera, sorriso-violeta, pernas inteiras, com a vermelhidão do sol a crescer céu acima...e o verão-doce-menos-Curitiba-35oC acelerando o coração...
quando o horizonte brinca de tempo-será com o sol a melodiar, é tempo de voar e fazer dos sonhos de Ícaro os olhos desembaçados de mais uma nova aurora...tempo de não-espera, sorriso-violeta, pernas inteiras, com a vermelhidão do sol a crescer céu acima...e o verão-doce-menos-Curitiba-35oC acelerando o coração...
Thursday, January 23, 2014
No dia do casamento...
A chave era grande. Do
tamanho do telhado. A fechadura era imensa. Do tamanho pavoroso de uma fenda na
terra. Na tenda dos amores. A chave era grande e não cabia no bolso da calça. A
calça era grande e não amassava nota alguma. A chave era pequena no planeta
terra todo... O sol era só disparar...e dissipar o que era menos atalho.
Atávico ambrósia. A chave. A chave... – e só se usavam saias...
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