Friday, July 25, 2014

Para quando falharem os verões...

Para quando todas as auroras se desfizerem em primaveras-tortas, para quando todos os outonos jamais tiverem qualquer possibilidade de verão, verse o pranto em riso, acenda todas as velas na chuva, caminhe descalça/o em terreno baldio e cheio de ervas, abrace os nós com que o Universo te presenteia, corra nu(a) em pleno frio do sul no mês de julho, descasque todas as batatas ao som da fúria de um hard rock, elabore o tempo do silêncio que perdeste. Sentirás que nada te falta, a não ser o teu próprio eu de quem te distanciaste. Olha a tua volta, (des)regula os passos, transpira o que já deixaste de ser há muito, isso do aqui e do ontem. Do agora e adiante. Hoje, sem remorsos...

Tuesday, July 22, 2014

Sobre o amor

Contra o amor, não há medicação. Nâo há contra-indicação, também. O amor não se previne, acontece. Pega-nos de surpresa e arrefece, com a mesma velocidade com que chega. Depois, é o tormento das almas a sofrer a ausência e a dor da separação. O amor não se previne. Acontece. Depois, é lamento distante, é injúria do cadafalso, da perda sem dano, das emoções dispersas, da libido do gozo traído do não-ontem no hoje. Contra o amor, há todos os dias. Há o hoje e o amanhã, à espera do amor de ontem e do ontem sem amor no hoje com muito amor. Há a medicação para todos os males, menos isso, do amor que se torna veneno, quando não mais vivido ou só vivido na memória emancipada da pele em saudade...

Tuesday, June 03, 2014

Das distâncias nossas & da lua

a lua está próxima hoje. e teus dedos não a alcançam. só este resquício de pensamento. vontade. a lua está grande feito unha-crescente, quando os dedos teimam em teclar. e está tão próxima. as tuas palavras, que mais distantes. e de repente, desejo subir a lua e lá permanecer, girando, contigo, de ponta a ponta da unha brilhosa. mas, a lua está distante – e tão próxima. como quando contávamos as estrelas nas noites que nos apeteciam os saberes do universo, quando o atravessávamos, querendo ser mais humanos e menos nós-mesmos. a lua, é esta que te trago e tu devoras, feito pipoca de palhaço, feito fantoche em domingo calamitoso de cão raivoso. a lua está distante e tão próxima. porque estamos longe e tão próximos...

Sunday, June 01, 2014

Criança-sempre

sonho de gente grande tem que sempre vir com S maiúsculo, feito casa de concreto, menos os sonhos de bonecas e gatos pulando entre vãos, portas e janelas.  sonho de gente grande tem a pequenez do tempo como os limites dos doces nas tardes de brincadeiras quase infinitas menos o aroma do que acelera o coração: abraço de pai, beijo de mãe, cosquinha que os irmãos nos fazem arbitraria, e fugazmente. sonho de gente grande é quando criança reaparece assim quando o adulto dela se esquece, mas é sempre muito rápido o passo entre a casa de brinquedos, e o mundo de concreto. mal sobra sorriso de lágrima ou de chuva, quando é verão bem forte e o calor transpira céu abaixo....

Sunday, May 11, 2014

Bênção, Mãe!

Das entranhas de ti, o que sou. Da tua força, garra e dor, eu. Do que deixaste para trás, o futuro. Do que sonhaste, pesadelos. Das tus lágrimas solidificadas, choro esquecido, transformado em riso. Das noites mal dormidas, dias ensolarados. Da vida que se esvai, e mais outro tanto. Das tuas alegrias, alguma mais felicidade para mais tristeza, porque este é o ciclo. Outro ciclo. Aquele que pensa controlar todos... Mas, o universo é tão pequeno e cabe nas tuas entranhas e no que não sou, sendo. O universo é imenso e escapa dos teus anseios, meu e teu percurso. Das entranhas de ti, uma voz a mais no mundo sem silêncios para roubar o teu silêncio, para te honrar à eternidade, porque tu és metonímia do que nos escapa, mãe, o Universo...

Tuesday, May 06, 2014

Das minhas sombras – tuas linhas, curvas...

Uma parte de mim é o que de mim se distancia e de ti se aproxima; outra parte é este teu eu que desconheço e que julgo amar; depois, entre um e outro eu, há o eu-ninguém, o eu-de-sempre, o eu-capaz-de-qualquer-atitude, o  eu-sem-qualquer-lamento-e-todas-as-lamúrias; há o eu-teu-meu e o eu que só carrego em pensamento e desabotôo em noite insone, em manhã fria, em caldeirão com pimenta. Uma parte de mim é o que as palavras registram; outra, a de todos os meus silêncios, tuas palavras. Depois, há o espelho. E as refrações. Reflexos. Reentrâncias...- menos a linguagem.

Friday, March 21, 2014

(todo) VINTE E UM DE MARÇO

Hoje é o dia da Poesia. dia da (des)mesmice. da não-barbárie. da alegria. que contagia. do tempo do silêncio na alma do infinito. hoje é o dia da Poesia (porque nos outros não há Poesia?). há meia-dívida com a palavra que soletra o desaforo e impera o choro ou a grande selvageria. e sempre grita a menor intempérie. hoje deveria ser sempre. hoje. palavra de carne e osso. palavra de sangue a honrar o que não se celebra como verbo derradeiro. hoje para nunca mais. hoje para sempre. da nuvem ao horizonte. Hoje não é dia da minha poesia. deveria. ser dia de toda a poesia. sem maiúsculas ou minúsculas. só sendo. para que se fizesse o verbo cerne de toda a intenção. verbo (in)certo e certeiro: rimas mal passadas, ritmo insólito do vento sem imagem, pausas acentuadas – para enlouquecer donas de casa e madrinhas de escola de samba, senhores crentes... Não importa. Porque isso importa: A POESIA É SEMPRE, o tanto que não vemos do tempo que se esvai: o teu eu que retiro do meu, o meu eu que reverbera o teu, a palavra maldita, sempre a ser dita.  ou, só o silêncio teimoso por entre linhas, versos (?) escondidos em estrofes condensadas. Hoje é o dia de toda a Poesia, para que não nos esqueçamos do que se tornou diminutivo no mundo imperial dos devaneios...ritmos reverberando batuques (silenciosos ou menos) construindo lenta-mente o que se esvai...

Saturday, March 15, 2014

Diagnóstico-tosco
O que for menos ausência, transparência. O que for memória, vivência. O que não for aurora, reticência. E o que for mentira: abraço-estreito. Para a verdade, flúor-e-s-cência. Menos es-s-en-cia. Ciência: valor etéreo. Obvia-mente: estéril.


Wednesday, March 12, 2014

Receita Terapêutica & (des)Temperada:

Que o mundo gire. Que a roda se deforme. Que a transparência seja a ausência. Que a presença se desafie em ausências. Que o mundo pare. E volte a girar. Que a alegria contagie, menos o plano do amor-encerrado-em-si-mesmado. Que a roda volte a ser firme & circular. Que o mundo declame. Nada desta poesia. Isso não é poesia. Isso é reclame em blog de fantasia. Menos. 

Saturday, March 08, 2014

Femin-inando

De todas as partilhas, o feminino. No plural. E no feminino, que também é gênero. Ser mulher, menos. Ser menos = mulher. Ser no feminino, antecedendo todas as formas plurais. Ser dividida. Ser excluída. Ser sem perdão, nem piedade. Ser-estando. Ser-não-sendo, para desmentir quem é e tombar no masculino. Tomar do masculino. Em-bebedar-se. Obrigação. Obrigatório. Destemido. Ser mulher = ser gorda, mesmo que anoréxica. Ser mulher é ter cabelos e, para alguns milhares de muçulmanas, não tê-los. Prender as vistas de suspiros expostos. Romper choros abrasivos; alguns, abusivos, convulsivos compulsiva-mente de carências: econômica, social, afetiva. Ser no feminino: nascer para ser menos. Ser só. Sempre. E no plural-monolítico de si. De todas as partilhas, este lado choramingo: dia que tem que ser dia em que não se é ou só se é para não sê-lo. E continuar hipocrisias. E fantasiar mentirosas idolatrias e igualdades legítimas. De todas as partilhas, o feminino, menos a humanidade, sempre, masculina.

Saturday, February 08, 2014

Dia Nascente
quando o horizonte brinca de tempo-será com o sol a melodiar, é tempo de voar e fazer dos sonhos de Ícaro os olhos desembaçados de mais uma nova aurora...tempo de não-espera, sorriso-violeta, pernas inteiras, com a vermelhidão do sol a crescer céu acima...e o verão-doce-menos-Curitiba-35oC acelerando o coração...

Thursday, January 23, 2014

No dia do casamento...


A chave era grande. Do tamanho do telhado. A fechadura era imensa. Do tamanho pavoroso de uma fenda na terra. Na tenda dos amores. A chave era grande e não cabia no bolso da calça. A calça era grande e não amassava nota alguma. A chave era pequena no planeta terra todo... O sol era só disparar...e dissipar o que era menos atalho. Atávico ambrósia. A chave. A chave... – e só se usavam saias...

Wednesday, December 18, 2013

nós, os dois, em nome de tom maior, o amor...

o sol quando encontra o céu é só silêncio de (não) desespero, silêncio surdo de alvoroço, porque as nuvens sossegam e o tempo é infância. porque o tempo que estamos longe, reiteramos o afeto. o tempo que nos distanciamos, em proximidade, morremos.  e quando nos aproximamos, é só som de mar. som de nuvens em ondas de ontem. som de marolas que pulamos em sonhos, esgarçando a vida, tornando-a elástica ao potencial dos ventos e da capacidade amazônica de transbordar vegetais, plantas, sementes e suavidade-ácida de cubiu e araçá-boi, em terra de planagem doce, em terra de vida longa...

quando o sol encontra o céu é só som de silêncio-menos-desespero, porque nos reencontramos em som de tom maior, esse senhor, de nome amor...

Sunday, December 01, 2013

deselegante-mente: des-ativ-ando a prece, congruente, nossa de cada dia de trabalho
em trabalho, de parto de texto
rompendo amarras
feito cordão
desacordado
do umbigo...
& depois é só o que não se lê: a chuva insossa do domingo, o sol escaldante da segunda-feira
& a cigarra saindo do armário...- depois da temporada em Nova Iorque &

Tuesday, November 26, 2013

A tarde caindo no encontro da noite chegando, em Pato Branco...

O espetáculo da vida é o sol a se esconder horizonte afora e a linha do horizonte, cor de rosa-meio-alaranjado-feito dia de glória, após tormenta de ferida exposta. e as nuvens se aconchegando em quase-rebuliço, mas as ondas do céu são aves e som-claras. Esquecem as mágoas e perpassam tempestades. As araucárias encobrem pássaros e patos de que perdemos vista. E depois vêm sempre os sonhos das dashas...
Agora sai o sol saltetante
sorrindo sereno
 sem vírgulas sonolentas

 servindo sereias.

Sunday, November 10, 2013

Hoje bastava-me estar só. bastava-me ser eu mesma. bastavam-me os raios do sol pelas frestas da persiana. sol em demasia. bastavam-me as folhas farfalhando em quase silêncio. bastava-me esta pouca voz. bastava-me toda a solidão diária. bastava-me o acaso. apreciado. bastava-me o que não sou, sempre, . bastava-me o que me basta. mas hoje é outro dia que não hoje. hoje é o ontem que perdi, o ontem que deixei escapar e que me faz ser isso que não sou. hoje é o amanhã que nunca chega e o hoje que deixo de viver em cada palavra que destoa em (des)razão.

hoje, bastava-me. a vida toda. 
mas, ainda não é hoje...

Friday, October 18, 2013

era um lastro de pena. uma solicitude. um sorriso. uma lágrima ao reverso. menos todo o peso da existência. o que dava vida ao dia: o amor com que nos movíamos: semblante, sombra, tudo menos o medo e a não-vontade. isso é o que era. e o que era no sempre. na voluptuosidade do que fica. na não-volúpia de cada instante. na volumosa densidade da água. na intermitente remissão de um vôo. as asas no horizonte. o resto era só...(esta lembrança).

Sunday, October 06, 2013

Custa-me sempre tanto deixar Portugal...custa-me uma espécie de saudade inerente, de sempre ter de me ir embora de mim, deste eu que é ancestral e em fusão com tantos outros eus que me compõem. Custa-me ter de dizer adeus aos que são tão caros a mim. Custa-me saber que um oceano e mais alguns km ficarão entre uma ponta do amor e a outra. E que os dias terão que se ficar entre a memória e a promessa deste sentimento suave que é a vida em harmonia...Mas, custar-me-ia mais não ter a esperança de que o tempo avança ao reencontro e à proximidade das duas pontas do amor que se vão separar pelo Atlântico, mais uma vez. (e têm sido trinta e duas vezes desde 2009...e mais antes, desde 2007)... Chega um tempo em que já não se quer a saudade, nem a idéia da saudade, só, talvez, o conceito literário da saudade nas obras dos outros. É preciso viver o sol que nos brinda o vôo de todas as gaivotas que cantam a promessa das futuras travessias...

Monday, September 02, 2013

mar-s-e-m-tempo

o céu em cinza ziguezagueia e brinca de tempo-presente quando o tempo-será é inexistente e depois vem a lua vem a mão da lua o sol que não é céu mas é o diabo do tempo em esperança porque todo dia teima em ser temporar-i-a-mente vibrante e a tua voz parte cedo e é quando percebo que neste tempo não nos cabem os des-enganos só permanências de não-ser e porque não há porquês só certezas incertas de comer cantigas amarelas-amarulas-da-infância e as amizades que não-são e só o tempo bastando bastardo o alimento-roxo-esdrúxulo-&-à-tinta...somos sóbrios ébrios sem brio e só calamidades mas os gregos souberam daquilo que nos a-grega: tempo inteiro tão tenaz de tecido que murcha barriga de ouvir falar de perito de mosquito de defunto e fim de mundo mudo tempo: a vida é escassa e o tempo se esgota antes do tempo-será.

então, será preciso mais disso e mais daquilo e menos disso&daquilo. Será preciso o encontro-que-não-é. 

O encontro-tempo. O encontro-encanto.O encontro-pirilampo. O eu de mim-mar-morto. O eu-de-mim-trêmulo. e murmúrio-mar. murmúrio-marulando-dormências-de-amor...