Sobre a Receita de Ano Novo
Recebi uma mensagem da Sara com votos de um ano novo feliz, em que todos os meus desejos se concretizassem. Depois, fiquei a pensar em todas as outras mensagens que recebi neste fim de ano. Apanhei na memória as mensagens dos finais de anos anteriores que recebi sempre com aquele desejo drummondiano de que nos fala tão bem no “cortar o tempo” quando nos diz do quanto “daqui pra frente” tudo poderá ser diferente...e voltei a cada uma das minhas (auto)promessas renovadas a cada ano no afã de dar crédito à mudança de ano, o ano novo, vida nova...e tudo o mais, como se pudéssemos, feito em conto de fadas ou n´algum conto do Franz Kafka invertido, acordar um ser humano melhor, deixar de ser barata, apagar as mágoas, fazer dos versos de Cecilia Meireles a prece diária da esperança...e voltei à mensagem da Sara.
Como é que eu, simples mortal, com aquele desejo inconfundível e inesgotável que Emily Dickinson imortalizou hope is the thing with feathers// that perches in the soul… poderia continuar o rastro da Esperança, sem ser tão piegas quanto as tantas inúmeras mensagens que quase transbordam pelos bytes computacionais em blogs ou em mensagens e que, se por vezes, aquecem a alma, na cumplicidade da falta do silêncio que preenche cada uma das nossas solidões universais, levam-nos ao óbvio de que nos esquecemos e de que detestamos nos lembrar, sobretudo, a esta altura do ano: o chique que é ser simples e amassar a linguagem em sentimento, que é a verdade da promessa da vida, que é cada um dos nossos gestos, mesmo os despudorados. Queremos vida. E mais: a ação/as ações que nos remete(m) ao incessante pulsar da respiração nas veias...
E foi tudo isso num instante: os votos da Sara, a memória das mensagens tantas (que nunca são demais, mesmo que nem abertas!) mais a reflexão acerca das palavras do Drummond, que parece estar em cada um dos gestos natalinos e de fim de ano, mas não só, e a vontade de escrever algo de volta à Sara e aos amigos todos, a confirmar que eu também, como eles, desejo-lhes o melhor, mesmo sabendo que é o pior que pode vir/que provavelmente surgirá de nós no próximo ano...E concluí todo este instante, que teimo em desdobrar em parágrafos, com uma única resolução: elaborar alguma receita de Ano Novo retumbante, bem eu, que sou melhor em trocar pneus do que no coser e no cozinhar.
Escrevinhei como se tivesse ouvido a figura “mítica” vinda da Laponia e que no ócio natalino ouso transcrever aqui, a desvelar o segredo meu entre o suspiro das amizades e dos fins de ano que celebramos e o desejo de cumprir bem o mau empenho em escrever mensagens de fim de ano...
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