Receita de Ano Novo
(aos amigos)
Para ter os desejos todos concretizados, basta um pingo de paciência, uma pitada de força, outra colherada de esforço com concha de vontade, mais um vácuo em que possam ser guardados todos estes ingredientes, sempre antes de serem cozidos, para que se/quando a água ferver, por ebulição de ruído ou muito sol, possa a umidade chover o gás da decência da alegria. Depois, é espalhar confeitos de amor, sem medir os punhados, porque a manteiga amarga do fundo dos cozimentos pode apagar o sabor doce dos alimentos. É recomendável não se esquecer de confeitar com sumos de respeito e reverência, pois assim também a massa de farinha de respeito e desejo, não necessariamente nesta ordem (já tentaram com sucesso, primeiro desejo, depois, respeito, embora o mais comum sejam ambos os ingredientes junto) ganhe ainda mais consistência. Para servir quente e salgado: dispor em pratos de sucesso, com temperos de simpática bondade compartilhada. Para viagem: embalar o que for con-feito em tiras de trans-criação como suspiros em forma de cristal polonês em esculturas de gelo. Os desejos concretizados, dizem, vêm frio se oferecidos nos anos posteriores, ainda que para nós possam ser bons suprimentos...Com café-amigo, anulam as calorias e se mantém a forma da felicidade esculpida nos corpos. Com chá, engorda feito fatia de bolo ao meio-dia. E com bebida alcóolica, desvaloriza o poder de aumentar o volume. Então, que o meu desejo da tua boa mão para a cozinha no novo ano que se aproxima se concretize: doce, salgado, quente ou frio, mas sempre servido com a vontade da esperança, que não nos deixa sair da cozinha...
Saturday, December 25, 2010
Ano Novo...
Sobre a Receita de Ano Novo
Recebi uma mensagem da Sara com votos de um ano novo feliz, em que todos os meus desejos se concretizassem. Depois, fiquei a pensar em todas as outras mensagens que recebi neste fim de ano. Apanhei na memória as mensagens dos finais de anos anteriores que recebi sempre com aquele desejo drummondiano de que nos fala tão bem no “cortar o tempo” quando nos diz do quanto “daqui pra frente” tudo poderá ser diferente...e voltei a cada uma das minhas (auto)promessas renovadas a cada ano no afã de dar crédito à mudança de ano, o ano novo, vida nova...e tudo o mais, como se pudéssemos, feito em conto de fadas ou n´algum conto do Franz Kafka invertido, acordar um ser humano melhor, deixar de ser barata, apagar as mágoas, fazer dos versos de Cecilia Meireles a prece diária da esperança...e voltei à mensagem da Sara.
Como é que eu, simples mortal, com aquele desejo inconfundível e inesgotável que Emily Dickinson imortalizou hope is the thing with feathers// that perches in the soul… poderia continuar o rastro da Esperança, sem ser tão piegas quanto as tantas inúmeras mensagens que quase transbordam pelos bytes computacionais em blogs ou em mensagens e que, se por vezes, aquecem a alma, na cumplicidade da falta do silêncio que preenche cada uma das nossas solidões universais, levam-nos ao óbvio de que nos esquecemos e de que detestamos nos lembrar, sobretudo, a esta altura do ano: o chique que é ser simples e amassar a linguagem em sentimento, que é a verdade da promessa da vida, que é cada um dos nossos gestos, mesmo os despudorados. Queremos vida. E mais: a ação/as ações que nos remete(m) ao incessante pulsar da respiração nas veias...
E foi tudo isso num instante: os votos da Sara, a memória das mensagens tantas (que nunca são demais, mesmo que nem abertas!) mais a reflexão acerca das palavras do Drummond, que parece estar em cada um dos gestos natalinos e de fim de ano, mas não só, e a vontade de escrever algo de volta à Sara e aos amigos todos, a confirmar que eu também, como eles, desejo-lhes o melhor, mesmo sabendo que é o pior que pode vir/que provavelmente surgirá de nós no próximo ano...E concluí todo este instante, que teimo em desdobrar em parágrafos, com uma única resolução: elaborar alguma receita de Ano Novo retumbante, bem eu, que sou melhor em trocar pneus do que no coser e no cozinhar.
Escrevinhei como se tivesse ouvido a figura “mítica” vinda da Laponia e que no ócio natalino ouso transcrever aqui, a desvelar o segredo meu entre o suspiro das amizades e dos fins de ano que celebramos e o desejo de cumprir bem o mau empenho em escrever mensagens de fim de ano...
Recebi uma mensagem da Sara com votos de um ano novo feliz, em que todos os meus desejos se concretizassem. Depois, fiquei a pensar em todas as outras mensagens que recebi neste fim de ano. Apanhei na memória as mensagens dos finais de anos anteriores que recebi sempre com aquele desejo drummondiano de que nos fala tão bem no “cortar o tempo” quando nos diz do quanto “daqui pra frente” tudo poderá ser diferente...e voltei a cada uma das minhas (auto)promessas renovadas a cada ano no afã de dar crédito à mudança de ano, o ano novo, vida nova...e tudo o mais, como se pudéssemos, feito em conto de fadas ou n´algum conto do Franz Kafka invertido, acordar um ser humano melhor, deixar de ser barata, apagar as mágoas, fazer dos versos de Cecilia Meireles a prece diária da esperança...e voltei à mensagem da Sara.
Como é que eu, simples mortal, com aquele desejo inconfundível e inesgotável que Emily Dickinson imortalizou hope is the thing with feathers// that perches in the soul… poderia continuar o rastro da Esperança, sem ser tão piegas quanto as tantas inúmeras mensagens que quase transbordam pelos bytes computacionais em blogs ou em mensagens e que, se por vezes, aquecem a alma, na cumplicidade da falta do silêncio que preenche cada uma das nossas solidões universais, levam-nos ao óbvio de que nos esquecemos e de que detestamos nos lembrar, sobretudo, a esta altura do ano: o chique que é ser simples e amassar a linguagem em sentimento, que é a verdade da promessa da vida, que é cada um dos nossos gestos, mesmo os despudorados. Queremos vida. E mais: a ação/as ações que nos remete(m) ao incessante pulsar da respiração nas veias...
E foi tudo isso num instante: os votos da Sara, a memória das mensagens tantas (que nunca são demais, mesmo que nem abertas!) mais a reflexão acerca das palavras do Drummond, que parece estar em cada um dos gestos natalinos e de fim de ano, mas não só, e a vontade de escrever algo de volta à Sara e aos amigos todos, a confirmar que eu também, como eles, desejo-lhes o melhor, mesmo sabendo que é o pior que pode vir/que provavelmente surgirá de nós no próximo ano...E concluí todo este instante, que teimo em desdobrar em parágrafos, com uma única resolução: elaborar alguma receita de Ano Novo retumbante, bem eu, que sou melhor em trocar pneus do que no coser e no cozinhar.
Escrevinhei como se tivesse ouvido a figura “mítica” vinda da Laponia e que no ócio natalino ouso transcrever aqui, a desvelar o segredo meu entre o suspiro das amizades e dos fins de ano que celebramos e o desejo de cumprir bem o mau empenho em escrever mensagens de fim de ano...
Wednesday, January 18, 2006
pé na estrada...
Asfalto quente derretendo pneus, tornando rodas geometricamente distantes...cheiro de jazz. O mar é muito denso para qualquer pensamento. A areia, muito fina. O pensamento não cabe no bolso da viagem. Só a alegria nada costumeira da leveza do asfalto na estrada noturna. E o jazz quase virando bossa nova...Ainda bem que ainda é jazz. E os livros tantos aquecem na medida do orvalho que escutamos ao tocarmos o verde quase esquecido das montanhas e desconhermo-nos. Saudade do que pensáramos um dia termos conhecido! 2048: para onde retornaremos após 2046?
A chuva parece distante, como as rodas geometricamente distantes. Desconhecemos rallies. Desconhecemos o deserto. Mas, a chuva parece distante. Deve ser o mar...(e o jazz, que teima, teima e teima...Charlie Parker recriado por Julio Cortázar no metro parisiense...). Imagem do deserto. Só imagem. Imagem só. A chuva parece distante. Deve ser o mar (e o jazz, que sempre teima).
A chuva parece distante, como as rodas geometricamente distantes. Desconhecemos rallies. Desconhecemos o deserto. Mas, a chuva parece distante. Deve ser o mar...(e o jazz, que teima, teima e teima...Charlie Parker recriado por Julio Cortázar no metro parisiense...). Imagem do deserto. Só imagem. Imagem só. A chuva parece distante. Deve ser o mar (e o jazz, que sempre teima).
Monday, January 02, 2006
Qual a Ordem/Des-ordem!
A ordem do dia começa pela noite? O jornal estampa a foto de um eqüino...competindo a faixa de uma larga avenida em Brasília com um carro e uma moto. Em que ordem o quê era o epíteto neste caso? A garra da alma parnasiana privilegiaria o cavalo...Nobre, porém, terá sido o asfalto no meio do quase nada nada sartreano dos idos 1950 de JK...Estou quase convencida de que a ordem do dia começa pela noite...
Mas e a noite? Ora, essa nasce no beijo tomado às pressas...e no beijo demorado. No abraço esquecido e sempre retomado na recordação de outro abraço...Nas conversas sobre invenções e mais outras que estão por serem feitas...Nos álbuns de fotografias e nos diários que por muito permanecem rígidos segredos...A noite, depois, se refestela nas ocasiões vespertinas de sortes: as mães atentas, os filhos descuidados, as crianças fatigadas das lições, as bibliotecas estremecidamente murmurantes e quase vazias...os encontros furtivos, as frutas já cansadas, desbotando das árvores e estas, sempre teimando em existir...afinal, é mais que o princípio da noite...A noite está onde estamos todos: concentrados, absortos, mergulhados na vida, princípio do dia...
Melhor ouvir as bacchianas e repensar a Semana de 1922...
Mas e a noite? Ora, essa nasce no beijo tomado às pressas...e no beijo demorado. No abraço esquecido e sempre retomado na recordação de outro abraço...Nas conversas sobre invenções e mais outras que estão por serem feitas...Nos álbuns de fotografias e nos diários que por muito permanecem rígidos segredos...A noite, depois, se refestela nas ocasiões vespertinas de sortes: as mães atentas, os filhos descuidados, as crianças fatigadas das lições, as bibliotecas estremecidamente murmurantes e quase vazias...os encontros furtivos, as frutas já cansadas, desbotando das árvores e estas, sempre teimando em existir...afinal, é mais que o princípio da noite...A noite está onde estamos todos: concentrados, absortos, mergulhados na vida, princípio do dia...
Melhor ouvir as bacchianas e repensar a Semana de 1922...
Sunday, January 01, 2006
Fofoca Nuestra
O título é Fofoca Nuestra ou Fofoca e Identidade...
Porque estamos ao lado de países de fala hispânica...
Porque nos contaminamos com polieuretano
e shakes emagrecedores...
e comidas fast food
e muito pop nas rádios,
falamos portunhol e nos degladiamos
como soldados romanos
sem a mitologia devida
e o quê restou dos clássicos...
Ouvimos rap, axé e o filho de Pelé
lavarem roupa suja no programa
da Luciana que queria ser Casé
mas deixou de se casar
e foi rockar com o Mick
embaladas pelas ondas
que eram da Garota
que não era surfistinha...
Porque estamos ao lado de países
que nos permitem o Portunhol
Lula tem Chávez
Nas entrelinhas de Simão...
Na Folha
Que não é de Mônica Waldvogel!
Mas porque falamos portunhol
Sabemos Português
E essa linguagem em computador
Deixa de ser uma quase aberração...
Porque estamos ao lado de países de fala hispânica...
Porque nos contaminamos com polieuretano
e shakes emagrecedores...
e comidas fast food
e muito pop nas rádios,
falamos portunhol e nos degladiamos
como soldados romanos
sem a mitologia devida
e o quê restou dos clássicos...
Ouvimos rap, axé e o filho de Pelé
lavarem roupa suja no programa
da Luciana que queria ser Casé
mas deixou de se casar
e foi rockar com o Mick
embaladas pelas ondas
que eram da Garota
que não era surfistinha...
Porque estamos ao lado de países
que nos permitem o Portunhol
Lula tem Chávez
Nas entrelinhas de Simão...
Na Folha
Que não é de Mônica Waldvogel!
Mas porque falamos portunhol
Sabemos Português
E essa linguagem em computador
Deixa de ser uma quase aberração...
Words ´n us...
Have you ever stopped to think of all these words?
What happens to them all?
After we erase them with the button "delete"?
Or, simply, after we store them in a blog?
Do they all get lives of their own?
Do they get the right for happiness, more than us?
Have you ever given them too much credit instead of...
just thoughts?
Have you ever given yourself the chance
for words?
And then
forget
what they might look like
when we die
and they survive
or when we survive
as they die
for example
in moments
after fights?
Have you ever wondered
why there are so many of them
for such few proper ears?
Still waiting
years ahead
of us...
to indicate
the way
to words?
oh god!
What happens to them all?
After we erase them with the button "delete"?
Or, simply, after we store them in a blog?
Do they all get lives of their own?
Do they get the right for happiness, more than us?
Have you ever given them too much credit instead of...
just thoughts?
Have you ever given yourself the chance
for words?
And then
forget
what they might look like
when we die
and they survive
or when we survive
as they die
for example
in moments
after fights?
Have you ever wondered
why there are so many of them
for such few proper ears?
Still waiting
years ahead
of us...
to indicate
the way
to words?
oh god!
Palavras: Silêncio!
Adeus Ano Velho, feliz Ano Novo...
Na verdade, após o dia oficial do silêncio, o primeiro do ano novo, vamos logo acenando Adeus Ano Novo, Feliz Vida Velha: palavras em excesso! Falar demais parece que nunca incomoda, exceto quando chegam aos ouvidos atentos! Todos queremos falar e por isso existe o e-blog! Por isso existem as tantas comunidades orkuteiras! Por isso há livros aparentemente em extravagância, pois nunca são lidos, como as Babéis radiofônicas, sempre interrompidas pelas tarefas que executam praticamente os seus ouvintes, enquanto sugerem audiência...
O dia oficial do silêncio nos garante: não estamos sós na teimosia da fala e precisamos de audiência para nos lembrar que a confusão da prosa em excesso impera, quando se trata da articulação das idéias! E quanta idéia! Idéia dos fios de cabelo que caem, nascem de novo ou escassam, idéias sobre refeições e trajetos, amizades e amores, viagens, trabalhos, simples olhares; idéias sobre rumos alheios...deixando de rumar ou de rumor...para se tornarem outros, talvez, mais ou menos nossos. E tanta idéia: idéia sobre as idéias, sobre os antepassados que pensaram idéias e não as divulgaram plenamente, porque as executaram; idéias sobre a escura falta de idéias e a obscura e fascinante série de idéias eróticas. Silêncio. O mundo está repleto de imagens. Mas nós sobrevivemos, porque amamos mesmo as palavras! Adeus Vida Velha, Feliz Ano Novo!
Palavras nos Acudam: somos simplesmente mortais!
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