Sunday, March 20, 2011
Saturday, March 19, 2011
A Sós
O eu com quem mais quero estar é o meu: o eu de mim, sem sussurros complexos. Cálices calados. Frutos indigestos. Quero o sabor simples, nada complexo da vontade: a palavra menos a vida lá fora. Só se for em contemplamento: o silêncio aqui dentro e a paisagem a fazer dançar as árvores, em que o tempo dispara menos – as folhas, sem eu(s).
O eu que mais quero é o eu de mim – o espaço em branco, acontecimento pausa.
O subreptíceo hiato entre o mundo e eu.
O eu que mais quero é o eu de mim – o espaço em branco, acontecimento pausa.
O subreptíceo hiato entre o mundo e eu.
Monday, February 28, 2011
Reunião
Um dia, rumo ao sol. Um dia. E a chuva ficará para trás. Para trás da felicidade que é onde moram todos os anseios. Para cima do medo, para além dos desassossegos. Um dia, o sol sem nuvens, nem secas, que é para quando o verão chegar, ter-se sempre a certeza de que o que paira é a brisa sem vento, o raio de sol sem intento que, por isso mesmo, é em contágio-respeito. Um dia, a lua encontra o sol, sem intermédios: (algum)a Paz.
Thursday, February 24, 2011
A métrica do amor
Um centímetro de amor. Era tudo de que precisava. Na sequência, poderia o mundo acabar. A finalidade da vida estava num único gesto! Quanto mais, o verbo, em ruptura. Uma palavra deitada fora do silêncio. E a existência passava a valer (ainda mais), mas era como se passasse a valer de verdade: o apetite pelas frases dissonantes e mais toda a musicalidade que acomete o reinado do riso – ainda que silente. Um centímetro de amor, com o qual se pudesse fazer um metro de acabamento: a compreensão. Porque o amor e a compreensão são lados próximos, mas diferentes, de uma única alameda.
Sunday, February 20, 2011
uma fotografia à janela
uma foto
dois pontos
de que me esqueci de contar. uma foto, dois pontos e o mundo a se desfazer lá fora: estórias. depois, são só palavras = nós da consciência onde se tem de ancorar os sentimentos. para, mais adiante, desenlaçar as cordas do que ficou em musgos, ervas, essas fontes de alegria e tristeza, por já não serem mais o que foram: o doce do rebuçado que se ignora para o lamento tardio. A fotografia diz mais do que a imagem nela estampada. A fotografia faz gritar outros tantos álbuns de fotografias, guardados nos armários da lembrança. E há o pavor das estórias que nos dizem e sobre as quais não queremos ouvir falar.
Uma foto dois pontos várias geografias.
Mais valia tombar a foto pela janela, se não houvesse transeunte lá por baixo…e o arrependimento da perda inesperada cá em cima…
Uma foto: geografias em excesso.
dois pontos
de que me esqueci de contar. uma foto, dois pontos e o mundo a se desfazer lá fora: estórias. depois, são só palavras = nós da consciência onde se tem de ancorar os sentimentos. para, mais adiante, desenlaçar as cordas do que ficou em musgos, ervas, essas fontes de alegria e tristeza, por já não serem mais o que foram: o doce do rebuçado que se ignora para o lamento tardio. A fotografia diz mais do que a imagem nela estampada. A fotografia faz gritar outros tantos álbuns de fotografias, guardados nos armários da lembrança. E há o pavor das estórias que nos dizem e sobre as quais não queremos ouvir falar.
Uma foto dois pontos várias geografias.
Mais valia tombar a foto pela janela, se não houvesse transeunte lá por baixo…e o arrependimento da perda inesperada cá em cima…
Uma foto: geografias em excesso.
Wednesday, February 16, 2011
Goodbye ilha(s) do desterro...
Rasgar papel de presente sem medo do barulho. Matar formigas impertinentes sem dor de ouvido. Fechar as persianas com toda a força e estalar, sem zumbido. Abraçar sem pudor e em total desalinho aquele amigo que não se vê há tempos ou o amor que se (des)encontra todos os dias. Beijar com o ânimo das preces. O cumprimentar efusivo. O deixar-se estar ao sol após o almoço. Observar as aves, quando vão ao mar. Espreitar as folhas, quando caem no outono e fora dele. Resgatar a imagem do relento: o sobreaviso desfeito. Tomar meio litro d´água sem piedade das gotas a se espremerem corpo adentro. Falar alto feito garsa e rir como hienas. Estourar bolhinhas de plástico das embalagens protegidas. Achar os amigos engraçados. Sentir correr o sangue, quando se acelera o passo. Sentir o frio na cara, quando a brisa é gelada. Fazer estrelar a vida, como num único instante de alumbramento: a lua nos teus olhos e o minuto, a valer a eternidade. Saber calar na tempestade. Rasgar papel de encanto. Encantar a tristeza com um sorriso. Resgatar da morte o que se despede todos os dias. Trocar de rosto, de corpo e de vida todos os dias. Isso é ser criança. Viver a grande, em valentia, acreditar nos astros e partir da ilha chamada desterro (que não é Floripa, mas é a ilha onde moram os nossos medos!).
Monday, February 14, 2011
Ao dia dos namorados: amar feito joão-de-barro
Amar feito João-de-barro
O joão-de-barro vive em casulos temporários abertos apenas por uma fenda estratégica. Depois, vem o sol e com a luz invade qualquer precipício que fosse possível (e previsível). O joão-de-barro não é cantor como o pintassilgo, mas canta em dueto. E isso faz até a gaivota querer ser seu par, porque o joão-de-barro é uníssono, ainda que estridente!
Amar feito o joão-de-barro deve ser viver para a mesma região, acomodar-se num único local, mesmo que em peregrinação eterna, porque o espaço interior é único e inteiro e faz juz aquele verso do Fernando Pessoa… “sê todo em tudo o que faze”. Menos a natureza nas urbanidades e nas urbanizações sem piedade. Amar feito o joão-de-barro é aceitar que até o amor se move, entra e sai de cena, sem nos darmos conta, muitas vezes. E amar feito o joão-de-barro é ser inteligente: construir um lar até quando for possível, para na existência maior, a lembrança, perdurar até a morte. E nos interstícios: juntar as partes.
Será que ao criar arquitetos Deus se esqueceu de ensinar a fazer janelas como a estratégica fenda da casa do joão-de-barro e aí vieram os janelões coloniais e a imprevisibilidade das beiras dos solstícios em que nos precipitamos, sem levar nada na mochila ou nas malas? Ou terá sido o contrário: foi a fenda estratégica das casas do joão-de-barro que incentivaram a humanidade a fazer casas com fendas maiores?
Olhando um joão-de-barro de perto, só se conclui que o João-de-barro talvez quisesse ter sido um pintassilgo…mas tanto o pintassilgo, quanto a gaivota voam mais que o joão-de-barro, distanciam-se mais da terra, de seus ninhos e de suas capacidades afetivas. Porque, afinal, amar feito o joão-de-barro é refazer dos rastros do vivido um novo ninho!
O joão-de-barro vive em casulos temporários abertos apenas por uma fenda estratégica. Depois, vem o sol e com a luz invade qualquer precipício que fosse possível (e previsível). O joão-de-barro não é cantor como o pintassilgo, mas canta em dueto. E isso faz até a gaivota querer ser seu par, porque o joão-de-barro é uníssono, ainda que estridente!
Amar feito o joão-de-barro deve ser viver para a mesma região, acomodar-se num único local, mesmo que em peregrinação eterna, porque o espaço interior é único e inteiro e faz juz aquele verso do Fernando Pessoa… “sê todo em tudo o que faze”. Menos a natureza nas urbanidades e nas urbanizações sem piedade. Amar feito o joão-de-barro é aceitar que até o amor se move, entra e sai de cena, sem nos darmos conta, muitas vezes. E amar feito o joão-de-barro é ser inteligente: construir um lar até quando for possível, para na existência maior, a lembrança, perdurar até a morte. E nos interstícios: juntar as partes.
Será que ao criar arquitetos Deus se esqueceu de ensinar a fazer janelas como a estratégica fenda da casa do joão-de-barro e aí vieram os janelões coloniais e a imprevisibilidade das beiras dos solstícios em que nos precipitamos, sem levar nada na mochila ou nas malas? Ou terá sido o contrário: foi a fenda estratégica das casas do joão-de-barro que incentivaram a humanidade a fazer casas com fendas maiores?
Olhando um joão-de-barro de perto, só se conclui que o João-de-barro talvez quisesse ter sido um pintassilgo…mas tanto o pintassilgo, quanto a gaivota voam mais que o joão-de-barro, distanciam-se mais da terra, de seus ninhos e de suas capacidades afetivas. Porque, afinal, amar feito o joão-de-barro é refazer dos rastros do vivido um novo ninho!
Tuesday, February 08, 2011
fazer lembrar
fazer lembrar
um instante refletido no horizonte. a cor da mágoa que se desfez na borda da xícara. o ar que teima no já frio azul de janeiro (e que não é instante). uma folha de árvore que se estende porta adentro. um aceno refeito em cor de rosa. a tardinha que se desmancha em azul claro e a noite que chega em cinza. o olhar de um amigo desenhado numa onda. uma gota de chuva a transbordar janela adentro. um raio de luz a brotar pela fresta da porta. A raiva desfeita no risco de um avião ao longe. o amor refeito. em forma de lágrima. alegria. tudo isso num único instante: para lembrar depois da meia-noite.
um instante refletido no horizonte. a cor da mágoa que se desfez na borda da xícara. o ar que teima no já frio azul de janeiro (e que não é instante). uma folha de árvore que se estende porta adentro. um aceno refeito em cor de rosa. a tardinha que se desmancha em azul claro e a noite que chega em cinza. o olhar de um amigo desenhado numa onda. uma gota de chuva a transbordar janela adentro. um raio de luz a brotar pela fresta da porta. A raiva desfeita no risco de um avião ao longe. o amor refeito. em forma de lágrima. alegria. tudo isso num único instante: para lembrar depois da meia-noite.
Sunday, February 06, 2011
em sendo feliz...(sem receita)
o mar há muito. há muito no mar. no mar há muitos murmúrios. e há o silêncio que desponta todas as vezes que as ondas batem nas rochas em revoada. revoadas. rosas. cinzentas tardes frias. depois, é só o mar. muito do mar. muito no mar. que há. no mar há. há no mar murmúrios. e murmúrios de lamentos. alguns doces. outros, ventos. intentos de vôos, que só alcançam as gaivotas. sábias. todo o resto é mar. sem sol. mais sal. "o quanto do teu sal são lágrimas de Portugal?"
não sabemos. não se sabe. nunca se saberá. só que há muito mar. e há muito no mar. há muito murmúrio no mar. e há o mar. lamento. ar. deste, não queremos saber. só das ondas que quebram na areia, quando o sol ainda é forte ou quando o sol ameaça se esconder e vêm as gaivotas em revoadas. revoadas. re-inv-enção-voadas. vêm. vôo: mar.
não sabemos. não se sabe. nunca se saberá. só que há muito mar. e há muito no mar. há muito murmúrio no mar. e há o mar. lamento. ar. deste, não queremos saber. só das ondas que quebram na areia, quando o sol ainda é forte ou quando o sol ameaça se esconder e vêm as gaivotas em revoadas. revoadas. re-inv-enção-voadas. vêm. vôo: mar.
Saturday, February 05, 2011
Para ser feliz…(receita 1)
tudo o que há é o não haver. é o esquecer . a lembrança da nulidade. daquilo a partir do que somos e pelo que nos modificamos. tudo o que há é o nada. e no nada, quase tudo: um sorriso, um abraço, uma brisa no rosto, em tempo quente. um ambiente aconchegante em tempo frio. (e isso só aprendi no inverno português : é preciso sentir o calor que se esconde). o ambiente acolhedor fora de qualquer lembrança teimosa. fora de qualquer guerra interior. Porque tudo o que há é o não haver – sinceramente, o ter de haver não importa. (para quem gosta de cobertor. e vinho). tudo o que deve haver é o não haver. e depois.
Thursday, January 27, 2011
O frio agudo: inverno-inverso
O silêncio é o gelo do frio. Menos o calor que as palavras ocupam quando a página está em branco. Página de branco (e preto) que a respiração das palavras não ousa. As palavras são todas coloridas. Basta um nó de pensamento. Um nó em pensamento qualquer. E já lá vai o silêncio a se desfazer em desejo: palavra. E o frio se descongela. O frio tenta. Vira verão, se a página é menos. Mas hoje é inverno e o verbo, trans-verso.
Queria logo a primavera, sem esses espaços de verão em ponta de desejo, menos ainda o inverno, o sonho desfeito de quem atravessa o campo da batalha sem verso.
A agudeza do inverno me faz querer (outra) estação em menos silêncio.
Queria logo a primavera…
Queria logo a primavera, sem esses espaços de verão em ponta de desejo, menos ainda o inverno, o sonho desfeito de quem atravessa o campo da batalha sem verso.
A agudeza do inverno me faz querer (outra) estação em menos silêncio.
Queria logo a primavera…
Friday, January 21, 2011
Sexta-feira: orar...
ar em nuvem
arar a nuvem mais que pensa-m-ento emoção tensão escrita. ar. arar a nuvem como (sor)riso a voar em viagem volta (s)(em) palavra campo arado. ar. arar em nuvem é igual desejo. ar. menos a palavra. arar a nuvem é disparar contra a solidez da história do enlace da vida do que nos dispõe eu-tu-ele. ar. ar. ar. ar. ar. arar. Arara, a ave. Ave! Arara!
Quero nuvem!
(nós)
arar a nuvem mais que pensa-m-ento emoção tensão escrita. ar. arar a nuvem como (sor)riso a voar em viagem volta (s)(em) palavra campo arado. ar. arar em nuvem é igual desejo. ar. menos a palavra. arar a nuvem é disparar contra a solidez da história do enlace da vida do que nos dispõe eu-tu-ele. ar. ar. ar. ar. ar. arar. Arara, a ave. Ave! Arara!
Quero nuvem!
(nós)
Saturday, January 15, 2011
Poemando o tempo…
é que o mistério é o tempo nas coisas. o tempo das coisas sem tempo.
e, depois, é todo o mistério do óbvio, de que nos esquecemos.
fora isso, é o tempo sem tempo que é com tempo aos misteriados misteriosos amantes do tempo, o amor.
e, depois, é todo o mistério do óbvio, de que nos esquecemos.
fora isso, é o tempo sem tempo que é com tempo aos misteriados misteriosos amantes do tempo, o amor.
Thursday, January 06, 2011
Mulheres na presidência...
Sexto dia do ano e a imagem da recém-empossada prirmeira presidenta do Brasil ainda tem efeitos sobre o meu sono: afinal, as mulheres estão onde têm de estar – no poder – porém, não necessariamente, no controle deste poder. Empossar uma presidenta eleita com um coronel, chefe do Senado, cuja filha e família comandam há anos um dos estados com maior descalabro desta nação é para além de perigoso, ainda um retrocesso.
Sexto dia do ano, a imagem da recém-empossada primeira presidenta do Brasil, seus aliados e a sombra das lutas interpartidárias que estão por se travar, mais a chuva por São Paulo e a cinza das horas, que das páginas do Manuel Bandeira foram parar nas avenidas onde há mendigos solitários, a revelar que os programas de governo não foram assim tão eficientes como gostaríamos.
Sexto dia do ano, a cinza das horas e a chuva a secar manhã adentro. Saudades do Brasl. Que nunca foi, nem será, exceto pelos aforismos oníricos dos poetas e dos músicos. O Brasil que nunca foi, como naquele outro poema do Bandeira (e dele ainda tantos outros): “a vida inteira que poderia ter sido e não foi”...O avião da janela do hospital, onde o hospital é uma viagem qualquer, para fora do país, e o avião, o sonho do Brasil crescer em verdadeiro. Não em falso – na minha recriação interpretativa, claro, do poema do Bandeira.
Mulheres nascemos com e para o poder, sem dele precisar. E isso nos faz independentes – claro que aqui falo das mulheres que sabem disso ou isso não ignoram!
Sexto dia do ano e duas únicas certezas: a chuva é imprescindível. O riso, também. O poder, na esfera federal, um ab-uso.
Sexto dia do ano, a imagem da recém-empossada primeira presidenta do Brasil, seus aliados e a sombra das lutas interpartidárias que estão por se travar, mais a chuva por São Paulo e a cinza das horas, que das páginas do Manuel Bandeira foram parar nas avenidas onde há mendigos solitários, a revelar que os programas de governo não foram assim tão eficientes como gostaríamos.
Sexto dia do ano, a cinza das horas e a chuva a secar manhã adentro. Saudades do Brasl. Que nunca foi, nem será, exceto pelos aforismos oníricos dos poetas e dos músicos. O Brasil que nunca foi, como naquele outro poema do Bandeira (e dele ainda tantos outros): “a vida inteira que poderia ter sido e não foi”...O avião da janela do hospital, onde o hospital é uma viagem qualquer, para fora do país, e o avião, o sonho do Brasil crescer em verdadeiro. Não em falso – na minha recriação interpretativa, claro, do poema do Bandeira.
Mulheres nascemos com e para o poder, sem dele precisar. E isso nos faz independentes – claro que aqui falo das mulheres que sabem disso ou isso não ignoram!
Sexto dia do ano e duas únicas certezas: a chuva é imprescindível. O riso, também. O poder, na esfera federal, um ab-uso.
Saturday, December 25, 2010
Receita de Ano Novo
Receita de Ano Novo
(aos amigos)
Para ter os desejos todos concretizados, basta um pingo de paciência, uma pitada de força, outra colherada de esforço com concha de vontade, mais um vácuo em que possam ser guardados todos estes ingredientes, sempre antes de serem cozidos, para que se/quando a água ferver, por ebulição de ruído ou muito sol, possa a umidade chover o gás da decência da alegria. Depois, é espalhar confeitos de amor, sem medir os punhados, porque a manteiga amarga do fundo dos cozimentos pode apagar o sabor doce dos alimentos. É recomendável não se esquecer de confeitar com sumos de respeito e reverência, pois assim também a massa de farinha de respeito e desejo, não necessariamente nesta ordem (já tentaram com sucesso, primeiro desejo, depois, respeito, embora o mais comum sejam ambos os ingredientes junto) ganhe ainda mais consistência. Para servir quente e salgado: dispor em pratos de sucesso, com temperos de simpática bondade compartilhada. Para viagem: embalar o que for con-feito em tiras de trans-criação como suspiros em forma de cristal polonês em esculturas de gelo. Os desejos concretizados, dizem, vêm frio se oferecidos nos anos posteriores, ainda que para nós possam ser bons suprimentos...Com café-amigo, anulam as calorias e se mantém a forma da felicidade esculpida nos corpos. Com chá, engorda feito fatia de bolo ao meio-dia. E com bebida alcóolica, desvaloriza o poder de aumentar o volume. Então, que o meu desejo da tua boa mão para a cozinha no novo ano que se aproxima se concretize: doce, salgado, quente ou frio, mas sempre servido com a vontade da esperança, que não nos deixa sair da cozinha...
(aos amigos)
Para ter os desejos todos concretizados, basta um pingo de paciência, uma pitada de força, outra colherada de esforço com concha de vontade, mais um vácuo em que possam ser guardados todos estes ingredientes, sempre antes de serem cozidos, para que se/quando a água ferver, por ebulição de ruído ou muito sol, possa a umidade chover o gás da decência da alegria. Depois, é espalhar confeitos de amor, sem medir os punhados, porque a manteiga amarga do fundo dos cozimentos pode apagar o sabor doce dos alimentos. É recomendável não se esquecer de confeitar com sumos de respeito e reverência, pois assim também a massa de farinha de respeito e desejo, não necessariamente nesta ordem (já tentaram com sucesso, primeiro desejo, depois, respeito, embora o mais comum sejam ambos os ingredientes junto) ganhe ainda mais consistência. Para servir quente e salgado: dispor em pratos de sucesso, com temperos de simpática bondade compartilhada. Para viagem: embalar o que for con-feito em tiras de trans-criação como suspiros em forma de cristal polonês em esculturas de gelo. Os desejos concretizados, dizem, vêm frio se oferecidos nos anos posteriores, ainda que para nós possam ser bons suprimentos...Com café-amigo, anulam as calorias e se mantém a forma da felicidade esculpida nos corpos. Com chá, engorda feito fatia de bolo ao meio-dia. E com bebida alcóolica, desvaloriza o poder de aumentar o volume. Então, que o meu desejo da tua boa mão para a cozinha no novo ano que se aproxima se concretize: doce, salgado, quente ou frio, mas sempre servido com a vontade da esperança, que não nos deixa sair da cozinha...
Ano Novo...
Sobre a Receita de Ano Novo
Recebi uma mensagem da Sara com votos de um ano novo feliz, em que todos os meus desejos se concretizassem. Depois, fiquei a pensar em todas as outras mensagens que recebi neste fim de ano. Apanhei na memória as mensagens dos finais de anos anteriores que recebi sempre com aquele desejo drummondiano de que nos fala tão bem no “cortar o tempo” quando nos diz do quanto “daqui pra frente” tudo poderá ser diferente...e voltei a cada uma das minhas (auto)promessas renovadas a cada ano no afã de dar crédito à mudança de ano, o ano novo, vida nova...e tudo o mais, como se pudéssemos, feito em conto de fadas ou n´algum conto do Franz Kafka invertido, acordar um ser humano melhor, deixar de ser barata, apagar as mágoas, fazer dos versos de Cecilia Meireles a prece diária da esperança...e voltei à mensagem da Sara.
Como é que eu, simples mortal, com aquele desejo inconfundível e inesgotável que Emily Dickinson imortalizou hope is the thing with feathers// that perches in the soul… poderia continuar o rastro da Esperança, sem ser tão piegas quanto as tantas inúmeras mensagens que quase transbordam pelos bytes computacionais em blogs ou em mensagens e que, se por vezes, aquecem a alma, na cumplicidade da falta do silêncio que preenche cada uma das nossas solidões universais, levam-nos ao óbvio de que nos esquecemos e de que detestamos nos lembrar, sobretudo, a esta altura do ano: o chique que é ser simples e amassar a linguagem em sentimento, que é a verdade da promessa da vida, que é cada um dos nossos gestos, mesmo os despudorados. Queremos vida. E mais: a ação/as ações que nos remete(m) ao incessante pulsar da respiração nas veias...
E foi tudo isso num instante: os votos da Sara, a memória das mensagens tantas (que nunca são demais, mesmo que nem abertas!) mais a reflexão acerca das palavras do Drummond, que parece estar em cada um dos gestos natalinos e de fim de ano, mas não só, e a vontade de escrever algo de volta à Sara e aos amigos todos, a confirmar que eu também, como eles, desejo-lhes o melhor, mesmo sabendo que é o pior que pode vir/que provavelmente surgirá de nós no próximo ano...E concluí todo este instante, que teimo em desdobrar em parágrafos, com uma única resolução: elaborar alguma receita de Ano Novo retumbante, bem eu, que sou melhor em trocar pneus do que no coser e no cozinhar.
Escrevinhei como se tivesse ouvido a figura “mítica” vinda da Laponia e que no ócio natalino ouso transcrever aqui, a desvelar o segredo meu entre o suspiro das amizades e dos fins de ano que celebramos e o desejo de cumprir bem o mau empenho em escrever mensagens de fim de ano...
Recebi uma mensagem da Sara com votos de um ano novo feliz, em que todos os meus desejos se concretizassem. Depois, fiquei a pensar em todas as outras mensagens que recebi neste fim de ano. Apanhei na memória as mensagens dos finais de anos anteriores que recebi sempre com aquele desejo drummondiano de que nos fala tão bem no “cortar o tempo” quando nos diz do quanto “daqui pra frente” tudo poderá ser diferente...e voltei a cada uma das minhas (auto)promessas renovadas a cada ano no afã de dar crédito à mudança de ano, o ano novo, vida nova...e tudo o mais, como se pudéssemos, feito em conto de fadas ou n´algum conto do Franz Kafka invertido, acordar um ser humano melhor, deixar de ser barata, apagar as mágoas, fazer dos versos de Cecilia Meireles a prece diária da esperança...e voltei à mensagem da Sara.
Como é que eu, simples mortal, com aquele desejo inconfundível e inesgotável que Emily Dickinson imortalizou hope is the thing with feathers// that perches in the soul… poderia continuar o rastro da Esperança, sem ser tão piegas quanto as tantas inúmeras mensagens que quase transbordam pelos bytes computacionais em blogs ou em mensagens e que, se por vezes, aquecem a alma, na cumplicidade da falta do silêncio que preenche cada uma das nossas solidões universais, levam-nos ao óbvio de que nos esquecemos e de que detestamos nos lembrar, sobretudo, a esta altura do ano: o chique que é ser simples e amassar a linguagem em sentimento, que é a verdade da promessa da vida, que é cada um dos nossos gestos, mesmo os despudorados. Queremos vida. E mais: a ação/as ações que nos remete(m) ao incessante pulsar da respiração nas veias...
E foi tudo isso num instante: os votos da Sara, a memória das mensagens tantas (que nunca são demais, mesmo que nem abertas!) mais a reflexão acerca das palavras do Drummond, que parece estar em cada um dos gestos natalinos e de fim de ano, mas não só, e a vontade de escrever algo de volta à Sara e aos amigos todos, a confirmar que eu também, como eles, desejo-lhes o melhor, mesmo sabendo que é o pior que pode vir/que provavelmente surgirá de nós no próximo ano...E concluí todo este instante, que teimo em desdobrar em parágrafos, com uma única resolução: elaborar alguma receita de Ano Novo retumbante, bem eu, que sou melhor em trocar pneus do que no coser e no cozinhar.
Escrevinhei como se tivesse ouvido a figura “mítica” vinda da Laponia e que no ócio natalino ouso transcrever aqui, a desvelar o segredo meu entre o suspiro das amizades e dos fins de ano que celebramos e o desejo de cumprir bem o mau empenho em escrever mensagens de fim de ano...
Wednesday, January 18, 2006
pé na estrada...
Asfalto quente derretendo pneus, tornando rodas geometricamente distantes...cheiro de jazz. O mar é muito denso para qualquer pensamento. A areia, muito fina. O pensamento não cabe no bolso da viagem. Só a alegria nada costumeira da leveza do asfalto na estrada noturna. E o jazz quase virando bossa nova...Ainda bem que ainda é jazz. E os livros tantos aquecem na medida do orvalho que escutamos ao tocarmos o verde quase esquecido das montanhas e desconhermo-nos. Saudade do que pensáramos um dia termos conhecido! 2048: para onde retornaremos após 2046?
A chuva parece distante, como as rodas geometricamente distantes. Desconhecemos rallies. Desconhecemos o deserto. Mas, a chuva parece distante. Deve ser o mar...(e o jazz, que teima, teima e teima...Charlie Parker recriado por Julio Cortázar no metro parisiense...). Imagem do deserto. Só imagem. Imagem só. A chuva parece distante. Deve ser o mar (e o jazz, que sempre teima).
A chuva parece distante, como as rodas geometricamente distantes. Desconhecemos rallies. Desconhecemos o deserto. Mas, a chuva parece distante. Deve ser o mar...(e o jazz, que teima, teima e teima...Charlie Parker recriado por Julio Cortázar no metro parisiense...). Imagem do deserto. Só imagem. Imagem só. A chuva parece distante. Deve ser o mar (e o jazz, que sempre teima).
Monday, January 02, 2006
Qual a Ordem/Des-ordem!
A ordem do dia começa pela noite? O jornal estampa a foto de um eqüino...competindo a faixa de uma larga avenida em Brasília com um carro e uma moto. Em que ordem o quê era o epíteto neste caso? A garra da alma parnasiana privilegiaria o cavalo...Nobre, porém, terá sido o asfalto no meio do quase nada nada sartreano dos idos 1950 de JK...Estou quase convencida de que a ordem do dia começa pela noite...
Mas e a noite? Ora, essa nasce no beijo tomado às pressas...e no beijo demorado. No abraço esquecido e sempre retomado na recordação de outro abraço...Nas conversas sobre invenções e mais outras que estão por serem feitas...Nos álbuns de fotografias e nos diários que por muito permanecem rígidos segredos...A noite, depois, se refestela nas ocasiões vespertinas de sortes: as mães atentas, os filhos descuidados, as crianças fatigadas das lições, as bibliotecas estremecidamente murmurantes e quase vazias...os encontros furtivos, as frutas já cansadas, desbotando das árvores e estas, sempre teimando em existir...afinal, é mais que o princípio da noite...A noite está onde estamos todos: concentrados, absortos, mergulhados na vida, princípio do dia...
Melhor ouvir as bacchianas e repensar a Semana de 1922...
Mas e a noite? Ora, essa nasce no beijo tomado às pressas...e no beijo demorado. No abraço esquecido e sempre retomado na recordação de outro abraço...Nas conversas sobre invenções e mais outras que estão por serem feitas...Nos álbuns de fotografias e nos diários que por muito permanecem rígidos segredos...A noite, depois, se refestela nas ocasiões vespertinas de sortes: as mães atentas, os filhos descuidados, as crianças fatigadas das lições, as bibliotecas estremecidamente murmurantes e quase vazias...os encontros furtivos, as frutas já cansadas, desbotando das árvores e estas, sempre teimando em existir...afinal, é mais que o princípio da noite...A noite está onde estamos todos: concentrados, absortos, mergulhados na vida, princípio do dia...
Melhor ouvir as bacchianas e repensar a Semana de 1922...
Sunday, January 01, 2006
Fofoca Nuestra
O título é Fofoca Nuestra ou Fofoca e Identidade...
Porque estamos ao lado de países de fala hispânica...
Porque nos contaminamos com polieuretano
e shakes emagrecedores...
e comidas fast food
e muito pop nas rádios,
falamos portunhol e nos degladiamos
como soldados romanos
sem a mitologia devida
e o quê restou dos clássicos...
Ouvimos rap, axé e o filho de Pelé
lavarem roupa suja no programa
da Luciana que queria ser Casé
mas deixou de se casar
e foi rockar com o Mick
embaladas pelas ondas
que eram da Garota
que não era surfistinha...
Porque estamos ao lado de países
que nos permitem o Portunhol
Lula tem Chávez
Nas entrelinhas de Simão...
Na Folha
Que não é de Mônica Waldvogel!
Mas porque falamos portunhol
Sabemos Português
E essa linguagem em computador
Deixa de ser uma quase aberração...
Porque estamos ao lado de países de fala hispânica...
Porque nos contaminamos com polieuretano
e shakes emagrecedores...
e comidas fast food
e muito pop nas rádios,
falamos portunhol e nos degladiamos
como soldados romanos
sem a mitologia devida
e o quê restou dos clássicos...
Ouvimos rap, axé e o filho de Pelé
lavarem roupa suja no programa
da Luciana que queria ser Casé
mas deixou de se casar
e foi rockar com o Mick
embaladas pelas ondas
que eram da Garota
que não era surfistinha...
Porque estamos ao lado de países
que nos permitem o Portunhol
Lula tem Chávez
Nas entrelinhas de Simão...
Na Folha
Que não é de Mônica Waldvogel!
Mas porque falamos portunhol
Sabemos Português
E essa linguagem em computador
Deixa de ser uma quase aberração...
Words ´n us...
Have you ever stopped to think of all these words?
What happens to them all?
After we erase them with the button "delete"?
Or, simply, after we store them in a blog?
Do they all get lives of their own?
Do they get the right for happiness, more than us?
Have you ever given them too much credit instead of...
just thoughts?
Have you ever given yourself the chance
for words?
And then
forget
what they might look like
when we die
and they survive
or when we survive
as they die
for example
in moments
after fights?
Have you ever wondered
why there are so many of them
for such few proper ears?
Still waiting
years ahead
of us...
to indicate
the way
to words?
oh god!
What happens to them all?
After we erase them with the button "delete"?
Or, simply, after we store them in a blog?
Do they all get lives of their own?
Do they get the right for happiness, more than us?
Have you ever given them too much credit instead of...
just thoughts?
Have you ever given yourself the chance
for words?
And then
forget
what they might look like
when we die
and they survive
or when we survive
as they die
for example
in moments
after fights?
Have you ever wondered
why there are so many of them
for such few proper ears?
Still waiting
years ahead
of us...
to indicate
the way
to words?
oh god!
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